Finanças em Foco

Planejamento sucessório: quando patrimônio, história e vida formam um só tecido

Qualquer pessoa pode e deve fazer um planejamento sucessório

O que vemos hoje é uma corrida silenciosa pelo Planejamento Sucessório que, em grande parte, não nasce da clareza, mas do receio das alterações no Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD). Famílias chegam pressionadas por um alarme externo, acreditando que podem “perder dinheiro” se não tomarem decisões imediatas. É como se o mercado tivesse apertado um único botão — o do medo — e reduzido sucessão a prazos, cálculos e urgência.

É verdade que existem discussões sobre tributação e que instrumentos como testamentos, holdings, acordos de acionistas, antecipação de legítima e diretivas antecipadas são relevantes. Mas há um risco evidente quando o Planejamento Sucessório é tratado apenas como engenharia jurídica. Ele não é um pacote de documentos. É um processo que organiza a passagem daquilo que tem valor — material ou simbólico — de uma geração à outra.

Quando o tema é abordado apenas pela lente econômica, duas distorções surgem. A primeira: quem não possui grandes patrimônios passa a acreditar que “isso não é para si”. A segunda: quem possui reduz sucessão a um arranjo técnico resolvido no cartório, sem tocar na camada humana que dá sentido às decisões.

A verdade é que qualquer pessoa pode — e deveria — fazer Planejamento Sucessório. Basta que tenha alguém que dependa dela ou uma vontade que deseja ver respeitada. Não falamos apenas de imóveis ou ativos financeiros. Falamos de autonomia, vínculos, histórias, tempo e cuidado. Sucessão nos obriga a atravessar dois tabus profundos: dinheiro e morte. E, quando evitamos esses temas, improvisamos. O improviso, no contexto familiar, costuma ter um preço alto.

Planejar a sucessão é compreender que patrimônio, história e valores formam o mesmo tecido. É um gesto de amor e liberdade: amor por quem fica e liberdade para estabelecer a própria vontade enquanto se pode decidir. Sem preparo humano, o preparo jurídico se esvazia. Sem preparo técnico, o emocional não se sustenta.

O caminho prático começa reconhecendo que sucessão é para todos. Depois, olhando para vínculos, afetos, silêncios e conflitos. Em seguida, entendendo o que de fato será transmitido: bens, responsabilidades, valores e significados. A partir daí, escolhem-se os instrumentos adequados. Além dos tradicionais, existem aqueles que geram liquidez — seguros de vida e previdências privadas — fundamentais para que a família possa atravessar o inventário com serenidade e preservar o fluxo de caixa de quem fica.

Em última instância, sucessão é o exercício de confiar o futuro a alguém. Planejar é cuidar para que os almoços de domingo continuem quando já não estivermos na mesa. É evitar que o que tem valor seja engolido pelo que apenas tem preço. Sucessão é passagem. E planejar é dar forma ao cuidado e ritmo às transições.

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