Finanças em Foco

Quem precisa de um family office?

Um autêntico family office serve apenas às famílias clientes, sendo remunerado exclusivamente por elas e evitando conflitos de interesses

Em meio à multiplicidade de serviços ofertados a investidores (private banking, asset management, wealth management, plataformas de investimento), alguém vem falar em family offices.

Nesse contexto, parece natural supor que se trate apenas de mais um competidor na corrida para captar recursos, oferecendo como diferencial conveniência e serviços acessórios, porém nenhuma resposta nova à velha necessidade de gerir um patrimônio. Se essa é a sua suposição, devo dizer que você está enganado, e essa é uma boa notícia.

A solução designada como family office começou a ser desenhada nos anos finais do século XIX, quando magnatas como Mellon, Morgan e Rotschield criaram escritórios com regras próprias para gerir e perpetuar suas fortunas. Por um século, o modelo se manteve restrito a proprietários de patrimônios suficientemente extraordinários para que a eficiência da gestão compensasse o custo de uma estrutura exclusiva.

A grande inovação veio na década de 1980, quando novas tecnologias enriqueceram muitas famílias, multiplicaram instrumentos de investimento e simplificaram processos, viabilizando os primeiros multi family offices (MFO) nos EUA. Atuando como prestadores de serviço e orientando vários clientes, com parâmetros específicos para cada qual, eles proliferaram e prosperaram no exterior por uns bons 20 anos antes de chegarem por aqui.

Só após a estabilização da moeda, finalmente surgiram os primeiros MFOs brasileiros. Em 2003, quando nosso escritório foi fundado, éramos dois ou três no segmento. Hoje, estimativas apontam que, em 2023, já seriam mais de 140 gestores patrimoniais independentes. Não é improvável, contudo, que esse número inclua negócios que não correspondem exatamente ao modelo dos family offices.

Um autêntico family office serve apenas às famílias clientes e é remunerado exclusivamente por elas, evitando conflitos de interesses. Não é instituição financeira, não tem operações próprias nem vende produtos. Seu papel é proteger e valorizar o patrimônio do cliente a longo prazo, prolongando sua capacidade de gerar os recursos necessários à manutenção da família.

Investimentos são apenas uma parte disso, precedida por análise da situação econômico-financeira, planejamento e definição de política de investimento adequada. Nesse processo, observam-se pressupostos para a harmonia familiar, antecipam-se ameaças, indicam-se soluções econômicas e deduzem-se objetivos financeiros, para, só então, executar o plano de investimento, acompanhando de perto as condições da família e a evolução do patrimônio.

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