Reflexões sobre finanças, maternidade e home office
Ser mãe já traz consigo inúmeros desafios. Imagine somar a isso à insegurança financeira. A conciliação entre trabalho e maternidade é um desafio para as mulheres, que se veem divididas em múltiplas funções. Em teoria, trabalhar de casa facilitaria esse processo, por trazer mais flexibilidade de horário e permitir que a mãe esteja mais presente com os filhos. Mas, na prática, nem sempre é assim.
Por aqui, mesmo no lugar de mulher branca, classe média, privilegiada – mas ainda assim com anseios – a volta ao trabalho sendo mãe autônoma em home office foi superlenta. Meu filho e meu puerpério já têm quase dois anos e nada volta ao que era antes. A licença-maternidade de quatro meses te permite entender os desafios, aprender a maternar, fixar a amamentação e (talvez) te reconhecer de volta.
Depois disso, você não consegue produzir como antes. Para voltar a uma jornada de trabalho integral, ainda mais remoto, você precisa ter uma forte rede de apoio, contratar ajuda ou colocar a criança na creche. E, infelizmente, nada disso é exatamente viável para a maioria.
Nesse tempo, o mercado se esqueceu de você e o esforço para criar seu networking é maior. Sua renda já diminuiu, as contas chegam e a incerteza vira ansiedade. As horas de trabalho são reduzidas, você tem uma criança te chamando o dia todo e as responsabilidades se multiplicam. Fora as questões patriarcais, que refletem na ausência dos homens no dia a dia das funções paternas.
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A economia do cuidado vem ganhando atenção, mas não tão cedo ganhará o patamar de valorização do mercado de trabalho. Um interessante relatório da Oxfam mostrou que 90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito pelas próprias famílias e, dentro desse recorte, a responsabilidade é das mulheres em 85% das vezes. Ou seja, a gente cuida sem ganhar nada; trabalha, afinal as contas continuam chegando; e precisa ser mais do que é para conquistar oportunidades justas.
Para empresas contratantes, dar preferência a mães com filhos pequenos pode ser fundamental para a saúde financeira e mental daquela mulher. Além disso, as mães se tornam profissionais mais dedicadas, tolerantes, organizadas e resilientes. Um estudo do Federal Reserve Bank of St Louis mostrou que funcionárias mães são mais produtivas. Afinal, não há espaço para procrastinação. Entretanto, ainda são extremamente negligenciadas pelos contratantes, pelo receio de absenteísmo.
Por outro lado – e aqui vai meu alento à mãe leitora – o puerpério passa, a amamentação exclusiva acaba, a introdução alimentar se assenta, a adaptação escolar acontece e o bebê se torna mais independente. Você vê uma luz no fim do túnel e seu potencial criativo retorna.
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