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Valuation esticado: o elástico que pode arrebentar

Em um portfólio privado, preço e valor podem estar profundamente desalinhados; entenda
Valuation esticado: o elástico que pode arrebentar
Foto: Reprodução/Adobe Stock

Quando retornei ao Brasil após uma trajetória nos Estados Unidos em investimentos alternativos, em 2019, o país vivia um momento de otimismo. O cenário macro era favorável: juros baixos, maior apetite ao risco e um fluxo crescente de capital global chegando à região. O mercado de tecnologia começava a amadurecer, e ganhava força a expectativa de que, enfim, a América Latina viveria seu melhor momento em inovação começando pelas fintechs.

Nos anos seguintes, o mercado se aqueceu rapidamente, culminando em 2021. Foi um período de excessos. Os investimentos se tornaram vorazes, os recordes se sucederam, e os fundamentos, muitas vezes, foram ignorados. O resultado foi uma proliferação de unicórnios. Negócios promissores, sim, mas precificados como se o desfecho de sucesso fosse garantido.

O mais curioso é que, desde então, pouca coisa mudou nas marcas de valuation dessas empresas. O preço antigo continua sendo a referência, ainda que descolado da realidade.

Essa dinâmica cria distorções. Em um portfólio privado, preço e valor podem estar profundamente desalinhados. Esse desalinhamento, por um lado, gera oportunidades de arbitragem e retornos. Por outro, funciona como uma barreira protetora em tempos de escassez. Adiar uma rodada, nesse contexto, pode ser uma estratégia de preservação, tanto da companhia quanto da narrativa.

Nos mercados públicos, essa relação é testada diariamente. O valor, entendido como a capacidade de geração de caixa futuro ajustado ao risco, encontra seu contraponto no preço de negociação. Quando há desequilíbrio, o mercado ajusta. Nos mercados privados, o tempo é mais lento. Mas as consequências, eventualmente, chegam.

Chegamos, então, ao cenário atual do venture capital. Valuations esticados em muitos fundos. Liquidez baixa. M&As limitados por custos de capital elevados e um ambiente regulatório mais duro nos Estados Unidos. O mercado de IPOs, por sua vez, permanece fechado, com uma fila longa de candidatos aguardando o momento certo. 

Talvez nunca tenha existido um ambiente tão propício para investir em venture capital e growth equity. Há oportunidades reais em empresas de qualidade, transações secundárias entre fundos, e alocações estratégicas em negócios.

Estamos no terceiro ano do ciclo, e a hora chegou. Todos querem ver o retorno do capital. Isso cria uma janela única: empresas excelentes, a preços justos equilibrando incentivos de interesse dentro de cada “captable”.

É aqui que a tolerância à duration se transforma em vantagem competitiva. Venture capital é, por definição, um mercado cíclico de “high beta”. E neste momento, estamos vivendo o ciclo de entrada. Oportunidade não se mede pelo que foi, mas pelo que está por vir. E, agora, o preço voltou a conversar com o valor.

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