Argentina da esperança eterna: aprovação de Millei é alta, mas o custo de vida também

(Direto de Buenos Aires)
Chegar à maravilhosa cidade de Buenos Aires após um encontro com o Ministro da Economia da Argentina na FIESP e ainda com o cheiro da vitória do Botafogo, na semana de um ano do governo do flamboyant Milei, é uma experiência inédita.
Tudo limpo, bonito, restaurantes cheios, segurança excelente, um câmbio ruim, 1 dólar por mil pesos, tudo caro (um café da manhã na famosa La Biela, 150 reais por pessoa). É uma Argentina que em janeiro teve inflação de 20.6 % e em novembro, 3.2 %. Câmbio estável.
Dívidas comerciais de importações pagas e um Presidente que trouxe o mundo conservador a Buenos Aires para uma reunião mundial, estrela do momento. O mundo inteiro está observando como será o segundo tempo do mandato do motoserra, cujo discurso parece e muito com os discursos de Hitler e Mussolini.
Países em espiral inflacionária e crise econômica e social profunda, cujos salvadores democraticamente eleitos se tornam destruidores da democracia e ditadores.
O primeiro ano de cortes no orçamento público, que atingiram as gorduras da administração pública e o sistema corrompido do ponto de vista da gestão temerária por dezenas de anos de finanças públicas, foi fácil. É fácil bater nos aposentados, desempregados, na cultura, nas universidades (vale a pena ver um filme argentino excelente sobre o assunto, Puan), pesquisadores e funcionários públicos.
Complexo e difícil será recompor o crescimento da economia. As indicações de desenvolvimento econômico num país de enorme miséria, desemprego, fome e diferenças sociais, que privilegia o agro e a mineração, que não geram emprego, não são muito auspiciosas.
Apesar de uma base industrial boa, mas não competitiva, nada indica que o projeto da atual governo vá criar novos empregos. Há também uma crise de mão de obra, já que houve uma enorme emigração de jovens qualificados. O país precisa mais do que de discurso radical e motoserra nas financas públicas, um projeto de crescimento sustentável.
Dizem que o discurso violento de Millei é para ser ignorado. Que ele é pragmático e que assim age em relação à China e ao Brasil. Sem dúvida tem todo o apoio de Trump, leia-se FMI, ao qual a Argentina deve 45 bilhões de dólares.
Mas, o pragmatismo externo é também uma ação ideológica muito radical no plano interno, que divide o país que terá seu teste nas eleições intermediárias daqui a um ano. E Millei dando certo, o exemplo dele terá reflexo também nas eleições brasileiras.
A santa paciência dos argentinos com o governo Millei, a carne, que é alimento básico, subiu em novembro 9 %, e no início de dezembro, 14 %, é resultado do desespero. A aprovação de Millei é alta, mas o custo de vida, também, e os salários estão congelados.
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