Giro pelo mundo

A Berlim de Joseph Roth e a de hoje

As reportagens e os livros descrevem uma capital que quem sabe voltou a ser florescente, mas com os mesmos sintomas do passado

Escrevendo de Berlim, capital da Alemanha, recordo as reportagens de um dos mais importantes escritores em língua alemã, judeu da Galícia, Joseph Roth. Era correspondente do influente Frankfurter Zeitung na florescente Berlim, após a Primeira Guerra, até sair, em 1933, após a Noite dos Cristais, quando os nazistas destruíram as sinagogas. As reportagens e os livros descrevem uma capital que quem sabe voltou a ser florescente, mas com os mesmos sintomas do passado: imigração, ascensão de extremistas da direita, ameaça da Rússia e mais a guerra na Ucrânia. E de fundo de pano, a reestruturação industrial, com a China ameaçando quase igual aos Estados Unidos de Trump.

O item imigração, nos táxis, nas ruas, nos restaurantes, você sente isso, é o problema número um dos políticos alemães. Para reconstruir o país após a guerra e para continuar o seu crescimento, precisaram de mão de obra. Dos 83 milhões de habitantes, hoje 23% são imigrantes, dos quais a maioria, 1,5 milhão, é turca, que representam no total, com seus descendentes, cidadãos alemães, um total de 3 milhões. Ou seja, quase 4% da população alemã são ou cidadãos turcos ou seus descendentes. E eles possuem 100 mil empresas, entre elas a mais importante empresa alemã de biotecnologia, a BioNTech, descobridora da vacina contra a Covid. E claro, tem prefeitos, deputados e até ministros. E os turcos aqui são alemães turcos, e o Kebab virou comida típica alemã.

Os problemas da imigração, que se agravaram quando a então chanceler Ângela Merkel permitiu a entrada de milhares de sírios e africanos, e que hoje continuam pedindo asilo e, sobretudo, com sua presença alimentam partidos da extrema direita, AfD, que já tem 20% de votos, não pararam. A justiça alemã amarrou as mãos do atual Chanceler Mertz, que acabou de assumir, proibindo o retorno na fronteira dos imigrantes que pedem asilo. Ou seja, a Alemanha continua sendo um santuário de imigração, independentemente de se precisar ou não dessa mão de obra.

Como conciliar as novas políticas econômicas, em especial com a concorrência chinesa na indústria automobilística, pilar da economia alemã, com o imperativo uso de robótica, os alemães venderam sua melhor fábrica de robôs para os chineses, IA e outras ferramentas digitais, com pressão da imigração e mais as tarifas de Trump, é uma pergunta de um milhão de dólares. Os investidores estrangeiros continuam, segundo o estudo Germany Trade, confiantes no desenvolvimento do país que vai colocar todas as cartas na indústria bélica para garantir sua segurança. Enquanto isso, a Polônia ganha um presidente anti-União Europeia e o acordo Mercosul-UE e complica toda o esforço de paz na Ucrânia. Aliás, os grandes querem mesmo a paz?

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