Giro pelo mundo

Brasil tem plena legitimidade para pedir soluções para a ONU

É certo o Brasil se pronunciar e dizer de bom tom e voz alta e altiva: a situação é grave na ONU, vamos trabalhar por soluções. Leia a coluna

Todo ano é igual em setembro em Nova Iorque: tem Assembleia Geral da ONU, o Brasil é o primeiro orador e para isso acompanham o presidente da República não só os do ramo, ou seja, diplomatas, mas um sem-fim de ministros, assessores e uma quantidade significativa de parlamentares, também com assessores, e mais todos os que têm chance de estar lá, com more or less de inglês, para fazer compras de fim de ano e passar sem pagar impostos.

Isso nada tem que ver com a importância política do evento, porque o evento é, sim, importante. De certa maneira, o discurso brasileiro dá o tom aos debates. Este ano foi um discurso claro sobre como o mundo não está bem, com mudanças climáticas batendo à porta de todo mundo, e três conflitos – Ucrânia, Oriente Médio e Sudão – sem perspectiva de solução à vista. E o questionamento do Brasil sobre a eficácia do multilateralismo para resolver esses conflitos é real e, ao mesmo tempo, assustador.

Lula discursa na abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Lula discursa na abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Essa ONU dirigida pelo português Guterres realmente não resolve nada. Declarações desastradas, ações que não solucionam os conflitos armados nem desarmam os outros, desmoralização dos capacetes azuis e vai aí a lista, longe de ser curta.

Mas a culpa disso tudo é só dos executivos da ONU ou dos países membros, em especial os membros permanentes do órgão político mais importante, que é o Conselho de Segurança? Um pouco de cada, mas sem dúvida dos membros do CS, com direito a veto. No mundo faltam líderes que queiram paz e sobram os que adotaram a doutrina de que conflito armado lhes traz mais benefícios. Simples assim. E com a liderança fraca do Guterres (quem sabe ele foi colocado lá justamente por isso), as coisas só pioram.

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Colocar no cesto de roupa suja toda a organização, que já teve um papel importante e ainda o tem, e funciona bem em áreas específicas, como saúde, desenvolvimento, direitos humanos, não é justo. Mas também não é justo que a organização não seja renovada, seja no Conselho de Segurança, seja nos outros organismos. Ou será que vamos precisar de uma outra guerra como foi a última guerra mundial para criar um fórum para solução de conflitos?

Há inúmeros fóruns regionais, mas também há os Brics, ou seja, entidades que, através da diversidade geográfica e até ideológica, procuram um canal de diálogo. Mas nada substitui a velha, desgastada e hoje quase inoperante ONU.

Então, é certo, sim, o Brasil se pronunciar e dizer de bom tom e voz alta e altiva: a situação é grave, vamos trabalhar para as soluções. E não é certo tirar a legitimidade de o Brasil se expressar na ONU e pela ONU, se algumas questões internas, mesmo no campo do meio ambiente, não estão resolvidas. Uma coisa é uma coisa, outra é outra.

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