Brasil tem plena legitimidade para pedir soluções para a ONU
Todo ano é igual em setembro em Nova Iorque: tem Assembleia Geral da ONU, o Brasil é o primeiro orador e para isso acompanham o presidente da República não só os do ramo, ou seja, diplomatas, mas um sem-fim de ministros, assessores e uma quantidade significativa de parlamentares, também com assessores, e mais todos os que têm chance de estar lá, com more or less de inglês, para fazer compras de fim de ano e passar sem pagar impostos.
Isso nada tem que ver com a importância política do evento, porque o evento é, sim, importante. De certa maneira, o discurso brasileiro dá o tom aos debates. Este ano foi um discurso claro sobre como o mundo não está bem, com mudanças climáticas batendo à porta de todo mundo, e três conflitos – Ucrânia, Oriente Médio e Sudão – sem perspectiva de solução à vista. E o questionamento do Brasil sobre a eficácia do multilateralismo para resolver esses conflitos é real e, ao mesmo tempo, assustador.

Essa ONU dirigida pelo português Guterres realmente não resolve nada. Declarações desastradas, ações que não solucionam os conflitos armados nem desarmam os outros, desmoralização dos capacetes azuis e vai aí a lista, longe de ser curta.
Mas a culpa disso tudo é só dos executivos da ONU ou dos países membros, em especial os membros permanentes do órgão político mais importante, que é o Conselho de Segurança? Um pouco de cada, mas sem dúvida dos membros do CS, com direito a veto. No mundo faltam líderes que queiram paz e sobram os que adotaram a doutrina de que conflito armado lhes traz mais benefícios. Simples assim. E com a liderança fraca do Guterres (quem sabe ele foi colocado lá justamente por isso), as coisas só pioram.
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Colocar no cesto de roupa suja toda a organização, que já teve um papel importante e ainda o tem, e funciona bem em áreas específicas, como saúde, desenvolvimento, direitos humanos, não é justo. Mas também não é justo que a organização não seja renovada, seja no Conselho de Segurança, seja nos outros organismos. Ou será que vamos precisar de uma outra guerra como foi a última guerra mundial para criar um fórum para solução de conflitos?
Há inúmeros fóruns regionais, mas também há os Brics, ou seja, entidades que, através da diversidade geográfica e até ideológica, procuram um canal de diálogo. Mas nada substitui a velha, desgastada e hoje quase inoperante ONU.
Então, é certo, sim, o Brasil se pronunciar e dizer de bom tom e voz alta e altiva: a situação é grave, vamos trabalhar para as soluções. E não é certo tirar a legitimidade de o Brasil se expressar na ONU e pela ONU, se algumas questões internas, mesmo no campo do meio ambiente, não estão resolvidas. Uma coisa é uma coisa, outra é outra.
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