Giro pelo mundo

Os desafios da nova presidente do México, e o que interessa ao Brasil

O mundo está fascinado com a nova presidente do México a partir de 1º de outubro. Veja o que a mudança naquele país tem a ver com o Brasil
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e a presidente eleita, Claudia Sheinbaum, participam de evento em Nueva Rosita, México, em junho de 2024. Foto: Daniel Becerril / Reuters
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e a presidente eleita, Claudia Sheinbaum, participam de evento em Nueva Rosita, México, em junho de 2024. Foto: Daniel Becerril / Reuters

O mundo está fascinado com a nova presidente do México a partir de 1º de outubro. Claudia Sheinbaum, judia, física com doutorado, ex-prefeita da Cidade do México, eleita com absoluta maioria de votos, com maioria na Câmara de Deputados e, no Senado, faltando dois senadores para também ter a maioria de 2/3 que permite mudanças constitucionais.

Ou seja, a sucessora eleita por AMLO, Andres Manuel López Obrador, que sai do governo com mais de 70% de aprovação e com poderes que desde 1982 nenhum presidente mexicano teve, vai governar um país de 120 milhões de habitantes, vizinho dos Estados Unidos, onde vivem 40 milhões de descendentes dos mexicanos que mandaram para a sua pátria de origem no ano passado US$ 63 bilhões.

Como será o governo no mandato de seis anos da nova presidente? A primeira definição ocorrerá no mês de setembro, quando os parlamentares tomarem posse, ainda com o atual presidente, que tentará aprovar uma reforma do judiciário. Os 1.700 juízes, inclusive nove ministros do Supremo, passarão a ser eleitos e não mais indicados e nem de carreira.

Insólita situação num país dominado pelo narcotráfico e com problemas de segurança pública sem igual no mundo. A reação alcança os Estados Unidos, que alegam que a reforma gera insegurança jurídica para os investimentos e desestabiliza o sistema democrático. E daí, disse AMLO, não se metam em assuntos internos. Aqui é o México.

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Sim, México, que apesar de ter 13 tratados de livre comércio e exportou mais de US$ 500 bilhões em 2023, depende economicamente do seu vizinho mais do que de qualquer outro país. Então o resultado das eleições nos EUA bate diretamente nos destinos do seu vizinho. Não só na área de imigração, mas em especial na de investimentos, se as empresas continuarem investindo no México ao invés de na China, onde a mão de obra é mais barata e o sistema de logística funciona bem.

Outra questão é a transição energética. A doutora presidente vai fazer o que com o país que depende 89% de hidrocarbonetos, enquanto o Brasil produz 90% de energia limpa, e tem uma empresa estatal Pemex corrupta, ineficiente e endividada em US$ 100 bilhões de dólares? Quanto ela tem de espaço com seu padrinho político para avançar nas reformas? Este mês de setembro será indicador, quando o Congresso votar a reforma do judiciário e a extinção de agências reguladoras. Ou seja, poder total na presidência da república.

O México é um parceiro comercial menor do Brasil, importa US$ 8,5 bilhões, mas tem investimentos de US$ 25 bilhões no Brasil, com Claro e Femsa, entre outros. E é sempre bom lembrar que, além de exportar 6 bilhões de cerveja e 4,5 bilhões de tequila, e de receber 22 milhões de turistas, já provocou no passado uma crise financeira da pior qualidade.

O país tem hoje crescimento moderado, no primeiro semestre o PIB cresceu 1.4%, as exportações, 14.4%, as importações, 16.5%, o déficit de balança de pagamentos seria tolerável e a inflação anual prevista é de 6%.

Segundo o Professor Sherban Cretoiu, do prestigioso Instituto Tecnológico de Monterrey e da Fundação Dom Cabral, os investimentos estrangeiros são na maioria reinvestimentos. O país é muito mais aberto do que o Brasil, exporta também produtos agrícolas, mas muito dependente do poderoso vizinho. Mas tem empresas muito mais internacionalizadas do que o Brasil. Exemplo disso é o bilionário Carlos Slim, dono não só de Claro, mas também acionista importante do New York Times.

Quanto ao Brasil, além de uma relação política que está à prova agora devido às eleições na Venezuela, onde a tentativa de conciliar a posição comum falhou, há uma relação complicada devido ao uso de atravessadores mexicanos, coiotes, para os imigrantes ilegais brasileiros irem para os Estados Unidos.

Os brasileiros naturalmente vão traçar um paralelo entre a eleição da Dilma e da Claudia. Dois padrinhos fortes, populares, elegeram sucessoras. No primeiro caso já é história. No segundo é bom lembrar que o México, do ponto de vista histórico, cultural e político, nada, nada mesmo tem a ver com o Brasil. Espera-se que a gestão nova no México administre bem as finanças, mantenha uma relação equilibrada com seu maior parceiro comercial e político que são Estados Unidos, e quanto ao narcotráfico e à segurança interna, seja protegida por forças divinas, porque aí a complexidade ultrapassa qualquer entendimento normal. Sem muita ilusão de achar que haverá mudanças radicais, porque elas podem custar muitas vidas.

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