Giro pelo mundo

Elon Musk e outros milionários acham que têm o direito de dominar estados, governos e sociedades

A questão que fica é: até que ponto as sociedades permitem que os milionários como Elon Musk adquiram também o direito de dominar estados?

Uma história de sonho americano: imigrante da África do Sul nos Estados Unidos se torna o homem mais rico do planeta. Elon Musk, 53 anos, 11 filhos, 3 esposas, distribui seu esperma aos amigos para “melhorarem a raça”, criador da Tesla, SpaceX, Starlink, dono do ex-Twitter, agora X, onde tem no Brasil 220 milhões de seguidores.

Não bastava ser o mais rico, nem ser recebido com tapete vermelho pelo presidente da China Xi, e outros, agora trabalhou na campanha de Trump para presidente dos Estados Unidos, para ser o homem mais influente da política norte-americana. Sem pudor, abusa do X emitindo mensagens falsas, subiu no palanque, emitiu opiniões e inverdades e ofereceu R$ 6 milhões a quem votasse em Trump.

Ele pode tudo, e no Brasil vivemos isso recentemente, e a ele nos Estados Unidos tudo é permitido. Os acionistas da Tesla, carro elétrico, votaram um prêmio pedido por ele, de US$ 46 bilhões. Isso é aproximadamente 15% de reservas cambiais brasileiras, sendo que a fortuna dele representa três vezes o total das divisas que o Brasil possui.

Musk não é o primeiro empresário que está envolvido na política. O sistema político norte-americano é uma aliança entre os interesses do capital e a sua população. Mas, mesmo com alguns excessos que inclusive levaram o país a intervir na política interna dos outros, essa intervenção já foi levada de uma forma mais discreta e equilibrada. Nelson Rockefeller é um exemplo. O JP Morgan, titã das ferrovias, outro. Elon Musk escancarou. Não tem limites, impõe suas ideias conservadoras ao extremo e usa todas as armas. Sem escrúpulo. E, se fizer parte do eventual governo do também empresário Trump, vai ter uma influência pior do tinham Steve Bannon e outros no primeiro governo.

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Na campanha presidencial, Trump ameaçou os adversários e, em especial, empresários. Muitos, como Jeff Bezos da Amazon e do Washington Post, se curvaram à ameaça. O fato é que, mesmo numa economia tão liberal como a dos EUA, esta campanha mostrou como as empresas dependem do governo. E aí reside a força ou ousadia de Elon Musk. As suas empresas dominam hoje as comunicações por satélite, o sistema de inteligência depende deles, os seus foguetes são mais eficazes do que os da Boeing e a NASA não vai a lugar nenhum sem a SpaceX, sem falar dos automóveis Tesla, que lideraram a transformação energética. Ele é arrogante sim, é perigoso sim, sem limites, mas renovou o capitalismo americano e, com ele, os bancos, fundos de pensão e indivíduos ganharam muito, muito dinheiro.

Como o dinheiro move o mundo, ele está por cima enquanto os que ganharem com ele estiverem salvos. A questão que fica é: até que ponto as sociedades permitem que os milionários que, às suas custas ou com benefícios dessas sociedades ganham trilhões, adquiram também o direito inalienável de dominar politicamente os estados, governos, sociedades?

Exemplos como Berlusconi, lembre do bumba bumba, Piñera no Chile, Babish na República Tcheca, Macri na Argentina e outros não faltam. Como as sociedades se organizam para um equilíbrio de governança democrática entre seus vários atores e seus interesses está em inúmeros estudos. Mas poucos estudiosos têm dedicado seu tempo aos modelos políticos que refletem predominantemente interesses de grupos econômicos ou indivíduos que acham que saber ganhar dinheiro lhes dá um privilégio absoluto de dominar a sociedade. Ou os políticos que, para estarem no poder e usufruírem dele, fazem alianças espúrias, representando interesses econômicos, sobrepondo-se aos interesses da sociedade. Os exemplos não faltam e os instrumentos das sociedades equilibrarem também não. Historicamente o pêndulo vai mais para os interesses dos indivíduos economicamente fortes e não para os interesses da sociedade.

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