Giro pelo mundo

Eventos geopolíticos globais afetam a cadeia de suprimentos no Brasil

"Se o mundo tiver um resfriado, nós estamos com pneumonia econômica"

A economia brasileira é totalmente dependente da importação de matérias primas: 95% no caso da indústria farmacêutica, 100% de fertilizantes no caso do agro, 100% de componentes eletrônicos como chips, sem falar em trigo. E não esqueçamos a indústria automobilística, que cada vez mais importa e cada vez menos fabrica no Brasil. Os eventos geopolíticos que afetam a cadeia de suprimentos não batem só nos outros, batem muito, muito forte na economia brasileira. A Covid-19 foi um desastre em termos do comércio internacional, mas o que estamos passando agora, alguns chamam de Covid Júnior, é bem grave.

Começando pela guerra na Ucrânia, que afetou o comércio de grãos e fertilizantes. O Brasil teve que correr para os braços do Kremlin para garantir fertilizantes para a sua agricultura. A Europa, que estruturou a sua economia na base de gás russo, teve que, da noite para o dia, procurar novos fornecedores. E a Rússia achou na China um novo mercado e, com as sanções impostas pela invasão da Ucrânia, também novas fontes de fornecimento.

O conflito em Gaza provocou o Irã, os rebeldes Houthisdo Yemen, que estão atacando os navios a caminho do canal de Suez, o que aumentou o custo de transporte de contêineres da China em 500%, mas mesmo assim abaixo do preço da época da Covid. E a seca no Canal de Panamá reduziu o fluxo de navios e, claro, o aumento de preços. Sem falarmos em oscilações do preço do petróleo ou da fragilidade do fornecimento de chips de alta tecnologia de Taipei, permanentemente sob ameaça de invasão chinesa.

O mundo baseado nos fornecimentos globais não existe mais. Os países iniciaram nova fase de industrialização. Os Estados Unidos, inclusive devido à disputa com a China, iniciaram um processo de reindustrialização, que inclui o México com mão de obra barata e excelente infraestrutura de logística com o país vizinho, como resposta a esses desafios.

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O Brasil está muito mais vulnerável do que parece. De um lado, importante fornecedor de commodities, sufocou sua indústria ao ponto de não fabricar nem um alfinete sem ingredientes estrangeiros, sem falar em medicamentos, o que é muito mais grave. Enquanto o mercado de commodities alimentar o caixa com dólares, essa situação é quase sustentável.

Mas, se o mundo tiver um resfriado, nós estamos com pneumonia econômica. E os planos do governo nesse sentido não andam com velocidade suficiente para evitar um colapso. Veja só o caso dos fertilizantes. O Brasil como potência agrícola não é capaz de ser autossuficiente nesta área. E quer fabricar chips, sem ter uma base tecnológica ou industrial capaz de fazer isso.

Claro que, quando quer, o Brasil resolve. Mas por que não quer?

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