França versus Mercosul: da guerra da lagosta à guerra da carne
O francês arrogante, cuja empresa no Brasil, que emprega 130 mil pessoas, produz um quarto do lucro da matriz parisiense, fez uma declaração inadequada, imprópria e inoportuna. O que disse, que não vão comprar mais carnes do Mercosul, foi interpretado como ofensa e a reação no Brasil levou a um pedido de desculpas. Em outros países do cambalido Mercosul não houve a mesma reação, mas aqui se aproveitou para unir o setor agrícola e demonstrar que o governo cuida do interesses dos fazendeiros, que andam muito desconfiados do pessoal de Brasília.
Tivemos certa sorte para que guerra do boi e do porco terminasse nas desculpas. O conflito sobre pesca da lagosta no início de 60 virou quase batalha naval entre o Brasil e a França. E durou três anos para ser resolvido. Da época, atribuem ao presidente francês De Gaulle a frase de que o Brasil não é um país sério. Mas os dois conflitos na essência mostram que mesmo tendo a maior fronteira terrestre, a da França com o Brasil, e interesses econômicos que vão além das ligações culturais e educacionais, com 500 mil brasileiros empregados nas empresas francesas, não existe uma parceria de desenvolvimento entre os dois países. O presidente Macron recebeu há um mês um grupo grande de empresários brasileiros no palácio do governo, para jantar comme il faut, liderados pela Lide do ex-governador de São Paulo, João Doria, onde só tinha amor regado a champanhe.
Mas isso não impede os franceses, unidos nessa questão da extrema direita aos ecologistas, de ser contra o acordo entre a UE e o Mercosul. Os franceses preferem perder esse acordo e continuar fornecendo ao Brasil tecnologia nuclear, aviões e manter seus investimentos dominando o mercado brasileiro, como é o setor alimentar e de construção, além do de hotelaria.
Quem precisa mais do acordo, por sinal em discussão sigilosa esta semana em Brasília, são outros países da Europa, como a Alemanha. A crise profunda na UE e o novo protecionismo de Trump, além da ameaça russa e da invasão industrial chinesa, enfraqueceram a Europa, que está demitindo milhares de trabalhadores. Ela precisa de novos mercados. E o Mercosul é esse mercado.
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O Brasil, aceitando esse acordo, destrói, com raras exceções, a sua indústria e não aumenta seu acesso ao mercado da UE. Torna-se uma colônia tecnológica da Europa em atraso e sem rumo para alcançar a China ou os Estados Unidos. E nos afasta de outros mercados que hoje sustentam nosso desenvolvimento. De fato, a UE teve a chance de fazer o acordo, mas exigiu demais, e perdeu o timing. E fazer o acordo sem a França, que não é Chipre, é quebrar a União Europeia.
O melhor caminho é achar um outro caminho para prosperar. O atual já era.
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