Do Mercosul terceira geração
A criação do mercado comum, Mercosul, da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, se deu com o Protocolo de Ouro Preto, em dezembro de 1994, sendo presidente do Brasil Itamar Franco. Ou seja, 31 anos, várias gerações de políticos e diplomatas se passaram, aliás a brincadeira entre eles é que o Mercosul é um acordo de terceira geração, porque demora tanto para se consolidar que ainda as próximas gerações de diplomatas continuarão negociando. Mas o que sobrou de fato?
Do ponto de vista comercial, que é o mais importante, o comércio regional, em declínio, representa 15% do comércio exterior, enquanto na UE é de 60% e no Asean, 22%. Do total de exportações brasileiras, 7% são destinadas ao Mercosul, mas o superávit, de 11.5 bilhões de dólares, é significativo. Trocas comerciais são menos de commodities e mais de produtos manufaturados e energia.
Nesse contexto, é fundamental o acordo automotivo, responsável por 50% de comércio no bloco. O acordo é totalmente dominado pelas multinacionais, num setor em profundas mudanças tanto tecnológicas como estruturais, que sobrevive com subsídios pesados e isenções de todos os tipos. Com o eventual acordo com a UE, esse será o setor que vai dar o tom da consolidação ou das reformas do Mercosul.
Muitos dos problemas que travam um maior comércio entre os países são decorrentes das relações políticas entre os dirigentes dos países membros. Lula e Millei não se falam, a ideologia prevalece ao invés de ser um projeto de estado e principalmente um projeto no qual os empresários têm maior interesse. As cadeias de produção, com exceção parcial do automotivo, não existem. A infraestrutura não melhorou nestes 31 anos. Não há empresas binacionais, com exceção da Yacireta e Itaipu, e mais concorrência do que cooperação. A instabilidade econômica e política da Argentina complicou o fluxo de negócios, além de que todo o bloco tem um parceiro comercial e de investimentos novo e poderoso: China.
Os acordos comerciais do bloco com o EFTA (Suíça, Noruega etc.), Israel, Singapura e eventualmente com a UE, não melhoraram a competitividade das economias do bloco. Também a entrada de Bolívia como 5° membro não vai melhorar, como também a expulsão da Venezuela tempos atrás, por não ser um estado democrático, não aumentou os negócios.
De um lado o Uruguai quer um acordo com a China, enquanto o Paraguai permite que os EUA montem uma base militar e compra equipamentos militares, como aliás também a Argentina faz por lá. Não há como não levar em conta novos contornos tecnológicos e geopolíticos. Mas, se empresários não abraçarem o projeto e principalmente não se prepararam para o day after, nada vai funcionar. Aliás, provavelmente não funcionou melhor até agora por causa disso. Uma oportunidade perdida. Terceira geração.
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