Giro pelo mundo

De New York, New York: a diplomacia do abraço de Lula e Trump

Declaração de Trump em discurso na ONU pegou até mesmo a delegação brasileira de surpresa

39 segundos no corredor de um prédio, sede da ONU, onde não funciona a escada rolante e nem o teleprompter, de uma organização que recusou a oferta de um megaconstrutor que virou depois duas vezes presidente dos Estados Unidos, a organização fundada em São Francisco há 80 anos, mudaram o humor da política e da economia do Brasil. Depois desses segundos, quando se abraçaram os presidentes dos EUA e do Brasil, passaram-se mais 57 minutos de um discurso explicando a doutrina Trump pelo próprio Trump, quando ele uns minutos antes de terminar disse que gostou do encontro relâmpago com Lula no corredor, gostou do Lula, e que os dois vão conversar na próxima semana.

A surpresa, que não foi surpresa porque as duas diplomacias atuaram nos bastidores, o que redime o Itamaraty de tantas críticas nos últimos tempos, esteve na delegação brasileira mostrada na TV, com Janja e Lula usando o celular na hora que Trump anunciava o encontro. Isso não tem a mínima importância. O importante foi que o discurso de Lula foi presidencial e honrou o País, que sempre inaugura a Assembleia Geral da ONU. Defendeu suas convicções tradicionais, o multilaterismo, base de nossa política externa, e criticou o que tinha que ser criticado. Foi, em termos gerais, o Lulinha paz e amor. Até agradeceu, o autor dessas linhas ficou emocionado, aos judeus que apoiam uma solução pacífica para o conflito de Gaza.

O discurso de Trump foi uma prestação de contas de seus feitos nas vertentes de política nacional e externa. Usou palavras duras, em geral não usadas em discursos presidenciais em qualquer país, sobre mudanças climáticas, imigração, Venezuela, europeus que compram petróleo e gás russo, o prefeito de Londres que é muçulmano, os ex-presidentes Biden e Obama. E foi brando com a China, com os amigos Putin e Natanhayu, ao declarar-se merecedor do Prêmio Nobel de Paz. E muito duro mesmo com a ONU.
Os dois discursos paradoxalmente colocam o mundo como hoje é. Tem que lê-los juntos para entender também, junto com 39 segundos de encontro, como funciona este mundo. Não se pode ter ilusão alguma do exercício pleno do poder e um pouco mais por Trump e os EUA.

Não foi Lula quem disse quando vai ter o encontro com Trump para acertar os ponteiros. Foi Trump que determinou. E agora, mesmo ao som de New York de Sinatra para festejar, começa o trabalho. Preparar a pauta dessa conversa, da qual os dois interlocutores devem sair vitoriosos, é um trabalho gigantesco. De qualquer maneira, Lula, mesmo que não consiga nada em relação às tarifas, sai como estadista para o público nacional e internacional. E Trump, se não conseguir nada, põe a culpa no Lula. Muita calma e definição clara é o que interessa ao Brasil, e não só ao governo.

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