Giro pelo mundo

Da minha terra e do seu quintal: as nuances do conflito entre EUA e Venezuela

Nó está em como achar o caminho de ganha-ganha e evitar o máximo de confronto entre os países americanos

Os Estados Unidos atacaram três barcos alegadamente do narcotráfico venezuelano e mataram os tripulantes. Transferiram 6.500 soldados para a área de Caribe. Tiraram o visto do presidente da Colômbia porque participou de manifestação a favor da Palestina. Para o Brasil, só 50% de tarifas e alguns vistos a menos. Continuam com sanções contra Cuba. Prendem diariamente centenas de imigrantes latinos e os deportam.

E a cereja no bolo: dão 20 bilhões de dólares para Argentina solidificar sua estrutura econômica.
Historicamente, para eles, nós, abaixo do Rio Grande, somos, na nossa terra, o quintal deles. Somos fundamentais para a segurança geopolítica e econômica. A política do presidente Monroe há um século determinava esse interesse, que depois foi base da política de Theodore Roosevelt, 1901-1909, do grande porrete. Ou seja, confirmação do quintal. Houve vários outros episódios, como a Aliança para o Progresso, Ponto 4, Operação Pan-Americana, invasões como a de Granada, República Dominicana, golpes de estado, Alca, Irã-contras.

O fato para nós, na América Latina, difícil de aceitar, é que somos fundamentais para a existência e prosperidade dos Estados Unidos da América. E o atual governo está demonstrando isso de forma inequívoca. No governo Biden também foi, como é o caso do apoio inequívoco e fundamental para reconhecer a eleição do Lula e antes enviar o secretário de Defesa para convencer os militares brasileiros de respeitarem o resultado de urnas.

O nó está em como achar o caminho de ganha-ganha e evitar o máximo de confronto. Eles são o maior investidor no país, têm a obrigação de defender seus interesses estratégicos e econômicos. Nós temos lá dois milhões de brasileiros, 1% de nossa população, e provavelmente uma poupança dos ricos de mais de 400 bilhões de dólares. Cento e vinte mil norte-americanos trabalham para as empresas de capital brasileiro lá.

No campo político, eles não se podem se dar ao luxo de ter governos antiamericanos. Veja o caso do México, uma presidenta de esquerda, muito mais do que o governo Lula, dialoga e acha caminhos. Equador,

Paraguai, Argentina, Bolívia, El Salvador, são pró-EUA. Temos eleições no Chile, que também não confrontou, e no Peru. E os clássicos adversários Cuba, Venezuela, Nicarágua.

O plano de só se afirmarem no “seu quintal”, principalmente com a China e também a Rússia penetrando, não tem futuro sustentável, inclusive pelas novas tecnologias e divisão geopolítica. Tem que ter líderes que encontrarão o caminho do desenvolvimento. Enquanto deram 20 bilhões de dólares para Milei, em um projeto em que poucos vão ganhar muito mas em cujo sucesso ninguém acredita, poderiam dar 2 bilhões para o desenvolvimento da região e teriam mais sucesso. Faltam lideranças, há excesso de prepotência e diálogo. E briga no quintal, mesmo de galos, nunca acaba bem.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas