Dos Estados Unidos e seus tiros: observações sobre a eleição americana e seu impacto no Brasil
Entre tantas eleições que se processaram nestes meses – Índia, França, Irã, Rússia, Reino Unido, Parlamento Europeu, Holanda, México –, a única que teve um tiro na orelha do candidato foi a dos Estados Unidos. Trump. E a única que teve um candidato que balbuciou no debate, trocou os nomes e começaram pedir a sua saída, Biden, também foi lá.
Para começar, não devemos achar que a eleição americana, cujo resultado afeta profundamente todos nós, é uma eleição em Sucupira, cidade imaginária da novela “O Bem Amado”, onde o Prefeito Odorico Paraguassu cria o fato com um atentado para elevar a sua popularidade. A realidade eleitoral americana é muito complexa e sofisticada, bem diferente dos sistemas eleitorais em outros países.
O tiro no candidato republicano Trump ou os desastres nos discursos do democrata Biden, um ex e outro atual presidente, podem dar algumas indicações de como será a campanha, mas vale a pena seguir a sabedoria política mineira que diz que o resultado das urnas, só depois de abertas. Ou seja, vamos ter muita emoção até as urnas serem fechadas.

Os democratas terão que decidir se continuam com Biden, que, por incrível que pareça, ainda é o candidato mais firme. Os pedidos para que renuncie e ceda lugar à sua vice, Kamala Harris, ajudam a enfraquecer a candidatura democrata. O bom senso deve vir do próprio Biden e das pesquisas eleitorais.
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Trump, cuja eleição com tiro na orelha foi festejada, é o que é: não mudou, só piorou. Aliás, a disputa é muito mais sobre o que Estados Unidos querem ser no futuro. O passado dos dois é conhecido. Trump jamais seria candidato com a lei da ficha limpa do Brasil. A Justiça americana o está livrando de todos os processos para ele pelo menos parecer honesto. E nada pega nele.
A gestão do Biden, com elevados índices de emprego, baixa inflação, reindustrialização do país, melhoria da saúde pública e perdão das dívidas dos empréstimos estudantis, não vale muito para o eleitor que está preocupado com o futuro quando terá, num mundo conturbado, um presidente não idoso, mas incapaz de mostrar liderança.
Independentemente de como interpretemos o processo eleitoral americano, a decisão cabe aos eleitores dos Estados Unidos. Mas, ainda pela força que o país tem no mundo, os afetados somos todos nós. A escolha de Trump pode ser conveniente para os ditadores como Putin, mas, seja quem for eleito, vai continuar com uma política protecionista e administrar a contínua inimizade com a China. Ou seja, vai cuidar dos interesses dos Estados Unidos. E, neste ínterim, nem a América Latina e nem Brasil estão, para qualquer dos candidatos, no primeiro círculo dos seus interesses.
A eleição americana é movida também por bilhões de dólares, não tem financiamento público, mas só privado, e aí pesa quem apoia. O apoio moral não tem o peso do apoio financeiro. É hora de muita calma e, apesar de que as apostas serem 65% a favor de Trump, de esperar um pouco mais.
E saber que nenhum dos dois candidatos defende nada mais e nada menos do que só os Estados Unidos.
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