Giro pelo mundo

Dos Estados Unidos e seus tiros: observações sobre a eleição americana e seu impacto no Brasil

'Devemos saber que nenhum dos dois candidatos, Trump e Biden, defende nada mais e nada menos do que só os Estados Unidos'

Entre tantas eleições que se processaram nestes meses – Índia, França, Irã, Rússia, Reino Unido, Parlamento Europeu, Holanda, México –, a única que teve um tiro na orelha do candidato foi a dos Estados Unidos. Trump. E a única que teve um candidato que balbuciou no debate, trocou os nomes e começaram pedir a sua saída, Biden, também foi lá.

Para começar, não devemos achar que a eleição americana, cujo resultado afeta profundamente todos nós, é uma eleição em Sucupira, cidade imaginária da novela “O Bem Amado”, onde o Prefeito Odorico Paraguassu cria o fato com um atentado para elevar a sua popularidade. A realidade eleitoral americana é muito complexa e sofisticada, bem diferente dos sistemas eleitorais em outros países.

O tiro no candidato republicano Trump ou os desastres nos discursos do democrata Biden, um ex e outro atual presidente, podem dar algumas indicações de como será a campanha, mas vale a pena seguir a sabedoria política mineira que diz que o resultado das urnas, só depois de abertas. Ou seja, vamos ter muita emoção até as urnas serem fechadas.

Atentado a Trump
Donald Trump sofreu um atentado durante comício no último sábado (13) | Foto: Brendan McDermid / Reuters

Os democratas terão que decidir se continuam com Biden, que, por incrível que pareça, ainda é o candidato mais firme. Os pedidos para que renuncie e ceda lugar à sua vice, Kamala Harris, ajudam a enfraquecer a candidatura democrata. O bom senso deve vir do próprio Biden e das pesquisas eleitorais.

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Trump, cuja eleição com tiro na orelha foi festejada, é o que é: não mudou, só piorou. Aliás, a disputa é muito mais sobre o que Estados Unidos querem ser no futuro. O passado dos dois é conhecido. Trump jamais seria candidato com a lei da ficha limpa do Brasil. A Justiça americana o está livrando de todos os processos para ele pelo menos parecer honesto. E nada pega nele.

A gestão do Biden, com elevados índices de emprego, baixa inflação, reindustrialização do país, melhoria da saúde pública e perdão das dívidas dos empréstimos estudantis, não vale muito para o eleitor que está preocupado com o futuro quando terá, num mundo conturbado, um presidente não idoso, mas incapaz de mostrar liderança.

Independentemente de como interpretemos o processo eleitoral americano, a decisão cabe aos eleitores dos Estados Unidos. Mas, ainda pela força que o país tem no mundo, os afetados somos todos nós. A escolha de Trump pode ser conveniente para os ditadores como Putin, mas, seja quem for eleito, vai continuar com uma política protecionista e administrar a contínua inimizade com a China. Ou seja, vai cuidar dos interesses dos Estados Unidos. E, neste ínterim, nem a América Latina e nem Brasil estão, para qualquer dos candidatos, no primeiro círculo dos seus interesses.

A eleição americana é movida também por bilhões de dólares, não tem financiamento público, mas só privado, e aí pesa quem apoia. O apoio moral não tem o peso do apoio financeiro. É hora de muita calma e, apesar de que as apostas serem 65% a favor de Trump, de esperar um pouco mais.

E saber que nenhum dos dois candidatos defende nada mais e nada menos do que só os Estados Unidos.

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