Variações cambiais: do real que balança e do dólar que fica
Nos últimos dias, tremeu a República econômica com a paridade do dólar dos EUA estar a R$ 6. A desvalorização do real neste ano foi das maiores entre as moedas dos países emergentes, mas no Brasil, as variações cambiais passam de efeito econômico para o campo da percepção tanto política como econômica. E em qualquer circunstância, real valorizado (dólar baixo) ou desvalorizado (dólar alto), sempre há insatisfeitos: os exportadores querem o real desvalorizado e os importadores, valorizado. Assim, as importações ficam baratas e as exportações competitivas. E em um país onde o custo de produzir é alto, a manipulação da taxa de câmbio faz parte da política de oferecer aos exportadores melhores condições de competir. Também é mais atrativo para a vinda de investimentos estrangeiros.
A moeda é um ativo sujeito a especulações. A recente “subida” do dólar, ou seja, a desvalorização do real em função do debate sobre o corte de despesas públicas, foi, sim, aproveitada por especuladores e deu um valor mais real à moeda brasileira. Não devemos também esquecer que houve, com a eleição de Trump, um fortalecimento do dólar e que muitas moedas se desvalorizaram, não só o real.
Olhando as contas externas do Brasil, em geral vistas com euforia, mas com pouco realismo, (BCB), verificamos um déficit persistente nas contas correntes: 2023, 42.8 bilhões e, em 2024, 49.2 bilhões de USD para o mesmo período de dez meses no ano. Nosso balanço comercial ainda é positivo, mas as despesas no exterior têm aumentado. A vinda de investimentos estrangeiros, 63.8 bilhões, se mantém, como também as remessas de lucros das empresas multinacionais em torno de 40 bilhões é igual nos dois últimos anos. Ou seja, vale a pena investir no Brasil.
A guerra comercial anunciada por Trump vai se tornar uma guerra de moedas. O dólar é ainda a moeda de trocas e totalmente administrada pelos EUA. Não temos qualquer interferência. E quando o Brasil começou a falar em fazer uma moeda dos Brics, levou um soco preliminar de Trump, determinando as regras do jogo.
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Em uma economia volátil politicamente como a nossa, o dólar se torna, na classe média, moeda de poupança, de segurança e, por isso, a sua volatilidade se torna um problema político. Enquanto o Brasil tem 366 bilhões de reservas cambiais, os brasileiros, número não confirmado oficialmente, 500 bilhões nos EUA e na Suíça.
O valor do real em relação a outras moedas tem também influência na inflação, porque para cada dólar que entra há emissão correspondente em real. E como importamos muito, há aumento do custo de vida.
O jogo de moedas, sobe e desce, será, no próximo ano, devido às políticas norte-americanas, ainda mais emocionante. Para termos serenidade, é bom distinguirmos o quê o governo pode fazer, e o quê, não.
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