Coluna

IDG: o caminho da consciência

IDG: o caminho da consciência
Psicóloga e doutora em administração, CEO do Instituto Brasileiro de Psicologia e coordenadora do Hub IDG.MG | Crédito: Arquivo Pessoal

Renata Livramento*

O que são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU e sua importância para a garantia da vida em nosso planeta não é nenhuma novidade. A percepção da urgência de termos ações para erradicar a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade, também não é. Mas infelizmente hoje, em 2023, estamos muito longe de atingir as 169 metas previstas para 2030. E por que isso acontece?

No Capitalismo Consciente dizemos que é necessário um ODS Zero, um objetivo anterior a todos os outros e que dá condições para o desenvolvimento de cada um deles: o desenvolvimento da consciência dos indivíduos. Sem indivíduos conscientes não temos lideranças conscientes e sem elas não há organizações e nem nações conscientes. E novamente, por mais que nos pareça óbvia tal constatação, por que ainda estamos longe de atingir este “ODS Zero”?

Porque desenvolvimento de consciência é um trabalho individual e interno de cada pessoa. Por mais que reconheçamos a necessidade de desenvolvê-la para garantia da vida coletiva, é no individual que a escolha e o comprometimento em desenvolvê-la acontece. Podemos alertar com os números, promover ações de sensibilização, mas em última instância trata-se de uma decisão de cada um em buscar a sua evolução. E ainda que decidamos por ela, não se trata de uma tarefa nem simples, nem rápida. Qualquer mudança interna esbarra em obstáculos que vão desde poderosos mecanismos de defesa psíquicos à tendência do nosso cérebro em manter padrões de funcionamento. Além disso, no que se refere aos ODS e suas metas, estamos lidando com desafios com altos níveis de complexidade e que mudam de configuração com uma velocidade muito grande, fazendo com que tenhamos pouca capacidade interior para lidar com eles.

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Mas então isso significa que não há solução? Que todos os esforços serão em vão? Não. Felizmente a Psicologia, a Filosofia, as Neurociênciase outros saberes nos mostram que podemos desenvolver nossas capacidades internas e evoluir a nossa consciência. E é baseado nesta capacidade de evolução interna que o movimento dos InnerDevelopmentGoals (objetivos de desenvolvimento internos), ou simplesmente IDGs se propõe. O movimento é uma iniciativa de um grupo de pesquisadores e lideranças dos países nórdicos que se uniram para discutir quais seriam os fatores críticos de sucesso para conseguirmos cumprir os 17 ODS, a partir de uma perspectiva de desenvolvimento humano. Foi então criada uma Organização sem fins lucrativos com a missão de “conscientizar mais pessoas e organizações sobre a importância do desenvolvimento interior humano. Ela também tenta disponibilizar parte do rico conhecimento existente sobre o desenvolvimento cognitivo e emocional humano em uma linguagem acessível que ressoe amplamente com as pessoas e organizações do século XXI”. (IDG, 2023)

Em colaboração com vários pesquisadores, universidades, filósofos e institutos foi realizada uma pesquisa (em constante atualização) para identificar quais as competências internas necessárias para suportar e acelerar as transformações propostas pela Agenda 2030. A partir dos resultados da pesquisa, e com o objetivo de simplificar a sua comunicação, foi criado um framework que engloba 23 competências, distribuídas didaticamente em 5 eixos organizadores.

O primeiro eixo é o eixo do ser, refere-se à nossa capacidade de nos relacionar conosco mesmos de forma consciente. Este eixo inclui as competências bússola interna; integridade e autenticidade; receptividade e mente de aprendiz; autoconsciência e presença. O segundo eixo, o eixo do pensar, aborda as habilidades cognitivas pensamento crítico; percepção da complexidade; perspectiva; significado e orientação a longo prazo e visão. O terceiro eixo, relacionar, diz respeito à nossa capacidade de nos importarmos com os outros e com o mundo, e é composto pela apreciação; conexão; humildade; empatia e compaixão. O quarto eixo é o eixo colaborar, e como o nome sugere, relaciona-se às nossas habilidades sociais de comunicação; cocriação; mentalidade inclusiva e competência intercultural; confiança e mobilização. Por fim, o quinto eixo é o eixo do agir, que traz competências que nos ajudam a liderar mudanças como coragem; criatividade, otimismo e perseverança. (IDG, 2023)

Cabe ressaltar que o importante aqui não é identificar competências em uma lista para então medi-las e “exigir” seu desenvolvimento. Pelo contrário, a identificação das competências é parte de um processo muito mais amplo, contínuo e duradouro de desenvolvimento de capacidades emocionais, cognitivas e interpessoais, colocando-as a serviço do mundo. São processos psicológicos e culturais complexos e profundos, e por isso não “cabem” em uma estrutura simples. Mas como já dito, um dos objetivos dos IDGs é facilitar a compreensão, para que assim podemos concentrar em nossa formação como seres humanos.

Atualmente os IDGs formam um ecossistema colaborativo presente em mais de 50 países por meio de diversos hubs. E se você quiser conhecer mais sobre esta iniciativa e participar deste movimento, entre em contato conosco pelo e-mail: [email protected].

*Psicóloga e doutora em administração. Conselheira da Filial Regional do Capitalismo Consciente em Belo Horizonte, é professora convidada da FDC, CEO do Instituto Brasileiro de Psicologia e coordenadora do Hub IDG.MG. Redes sociais: Instagram – @renata.livramento, Linkedin – Renata Livramento e e-mail: [email protected].

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