Imagem & Comportamento S.A

Três lições de imagem pessoal com Silvio Santos

Em termos de imagem e comportamento, Silvio Santos também era um mestre

Com a morte do apresentador mais alegre do Brasil, uma colega escreveu em um grupo de WhatsApp para comunicadores: “Podem me chamar de brega, mas eu amo o Silvio Santos”.

Achei interessante a preocupação, pois, como comunicadores e jornalistas, seria inadmissível não admirar o talento desse homem e o que ele fez pela televisão brasileira. Logo, também seria inadmissível alguém ir contra ou considerar brega amar um comunicador de tamanho quilate. Mas não se tratava disso.

Crédito: Alan Santos/PR

Houve um tempo em que o apresentador era associado apenas à classe C e sua rede de TV era considerada, na gíria da época, brega e de gosto duvidoso e extremamente popular. Era um estilo de fazer televisão muito peculiar, muito voltado para as donas de casas e para os mais desfavorecidos. Era divertido, constrangedor até, mas conquistou o público com jeito de falar simples, sorriso largo e com seu empreendedorismo e seu Baú da Felicidade.

Vemos muito disso hoje nas redes sociais, nas dancinhas do TikTok, nos aplicativos de vendas, nas versões musicais que rodam o mundo, nos programas e personagens que inundam a internet e amealham milhões de seguidores… O homem do baú era um visionário e, para surpresa de muitos, fez riqueza com trabalho. Tudo isso com uma imagem e um jeito que fazia arrepiar a sociedade intelectual e abastada.

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Lição 1: Autoconhecimento

Se apresentava às colegas de auditório (sempre mulheres, elas são mais animadas e os homens podiam reprimi-las) em ternos sob medida, microfone grande, sapatos sociais, cabelos impecavelmente penteados com gel e, com o tempo, tingidos. O palco do programa Silvio Santos, aos domingos, era a sua praia. Lá se vão mais de 60 anos! Muitas críticas ele enfrentou sobre sua aparência, sobre seu estilo de trabalho e sobre seu sucesso. Nada abalou sua disposição em oferecer entretenimento ao público e às famílias brasileiras.

Nesses anos de vida pública, Silvio Santos, mostrou-se fiel à sua personalidade. Encontrou seu estilo de vestir e tornou-se sua própria marca e a do Sistema Brasileiro de Televisão.

Lição 2: Estilo de vestir

Fora das telas, apresentava-se de maneira mais informal. Depois de consolidada sua fama e força, permitiu ser visto trajando bermudas xadrez, camisas floridas ou estampadas. Como empresário, mantinha o estilo semiformal de vestir, mas em casa e para dormir ele deixava solta sua criatividade e escolhia pijamas divertidos, coloridos e estampados. Deixava-se fotografar na intimidade com estes trajes de dormir, certamente para apoiar a marca Tjama de seu neto, Tiago Abravanel. Ao longo dos anos, diante das câmeras, Silvio Santos vestiu o estilo clássico e elegante um contraste com seu programa popular, descontraído e sem formalidades.

Com estes trajes mostrava também sua autoridade e poder. Manteve as abotoaduras, anéis de sinete, gravatas, lenços de bolso e o costume até sua despedida do programa Silvio Santos, em junho de 2022. O programa podia ser bem popular, mas Silvio estava sempre “alinhado”, afinal, o “povo gosta de riqueza”. A mensagem para seu público era essa: charme, elegância, exclusividade.

Lição 3: Autenticidade

No palco, com seus balancinhos de corpo simpáticos, encontrava sempre um jeito de sorrir, de fazer uma piada, de improvisar e fazer rir a todos. Embora brincalhão, sempre que era contrariado deixava isso evidente. Errou o tom inúmeras vezes, mas sempre autêntico. Generoso, deixava fluir o talento de cada um, mas era enérgico, firme com seus colegas de palco, assistentes, jurados e convidados se algum deles saísse da linha que ele traçava para proteger o bem-estar da família brasileira ou sua emissora de TV. O comportamento transparente era mais um aliado para manter a atenção da plateia e seduzir a audiência.

Em termos de imagem e comportamento, Silvio Santos também era um mestre: usou sua imagem pessoal para passar mensagens estratégicas sobre si; vestiu-se de forma coerente diante do público e foi sempre ele mesmo, acertando ou errando. Pela comoção nacional com sua morte, ele acertou mais que errou.

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