Uniforme das Olimpíadas: a imagem do País
Qual a imagem os países pretendem passar através dos uniformes durante as Olimpíadas? Em geral, estas peças devem trazer uma representação cultural, simbolizar a identidade nacional e cultural do país, destacar elementos tradicionais e contemporâneos das nações. Devem promover unidade e orgulho para os atletas e cidadãos; dar uma visibilidade global e, ainda, atualmente, mostrar inovação e sustentabilidade.
Pois bem, vamos analisar as escolhas e decisões do COB – Comitê Olímpico Brasileiro e da Riachuelo para apresentarem nossos atletas de jaqueta jeans bordada, camiseta listrada e saia ou calça brancas com sandálias havaianas na abertura das Olimpíadas de Paris 2024.
Primeiro vamos ao dress code, o código de vestir. Com uma cerimônia de abertura sobre barcos, durante o dia, e sendo um evento esportivo é natural entender que o dress code seja mais casual, informal. Nesse caso, tudo certo com o nosso jeans. Por outro lado, trata-se de um evento com muita repercussão mundial, cerimonioso, cujo anfitrião é um país tido como refinado além de ser considerado referência em moda e alta costura, logo, um dress code mais formal também é uma boa opção.
Os Jogos Olímpicos trazem uma oportunidade para os países participantes apresentarem seu modo de vida, sua cultura, sua educação, espírito esportivo, empatia e o famoso ”fair play” (a conduta limpa, respeitosa e ética). Nesse sentido, o Brasil não recebe críticas, nossos atletas se destacam pela cortesia em todos os esportes. Formal ou informal, a apresentação dos atletas representando seus países eleva o sentimento nacionalista em todos os cantos do planeta.
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Todos querendo causar uma boa impressão aos milhares de telespectadores, organizadores,
participantes e público. Aqui a unanimidade já é difícil, uma vez que envolve diversos fatores e muita subjetividade.
O segundo ponto é como o país é visto no mundo. O Brasil tem uma imagem internacional de País alegre, divertido, comunicativo, multicultural, imenso, democrático, mas principalmente, um País informal onde as pessoas se abraçam, se tratam pelo primeiro nome e falam umas com as outras sem se conhecerem. Ora, esse é o espírito brasileiro e não há como negar que o jeans traz toda essa informação. Tudo certo com o nosso jeans também.
Moda, subjetividade e gosto pessoal na escolha dos uniformes das Olimpíadas
Outro ponto: a moda, a subjetividade e o gosto pessoal. A relação tão reclamada com a moda e a França pode ser observada na escolha do tipo de listra, a estampa breton é típica do náutico francês, e o próprio jeans, tecido criado na França nos anos 1800. E aliás, o Brasil é considerado um dos maiores produtores de tecido jeans do planeta. Logo, nossa economia também se faz presente. Tudo feito com materiais sustentáveis, com a tradição do bordado de Timbaúba dos Batistas, um lugarejo no Rio Grande do Norte, cujas bordadeiras fizeram estampas coloridas com elementos da fauna e da flora brasileira. Nos pés, o calçado mais famoso dos brasileiros, as havaianas.
“As criações são submetidas à aprovação geral, incluindo do COB. Elas são validadas por muitas pessoas. É um processo longo, são muitos especialistas envolvidos”, relata a executiva de marketing da Riachuelo, Cathyelle Schroeder. A decisão não agradou a todos os cidadãos brasileiros, mas agradou lá fora. O canal francês CNews elegeu os mais belos uniformes das Olimpíadas. Os uniformes brasileiros estão entre eles!
Ou seja, não faltou representatividade, não faltou associação com a cultura nacional nem com a moda local e internacional. As saias, por exemplo, também foram consideradas uma alusão ao new look da Dior, marca consagrada daquele país. Então, se está tudo certo, por que tanta discussão? Faltou contar tudo isso aos brasileiros? Faltou incensar o sentimento nacionalista? Faltou compreensão e entendimento do significado das peças escolhidas? Esse é um debate muito subjetivo, pois envolve o gosto pessoal, não há unanimidade. Melhor assim, é como dizia Nelson Rodrigues, um brasileiro que adorava esporte: toda unanimidade é burra.
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