Alzheimer: a inovação está começando a romper o silêncio da mente
O Alzheimer, forma mais comum de demência, afeta mais de 1,7 milhão de brasileiros e mais de 55 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Trata-se de uma doença neurodegenerativa progressiva que compromete a memória, o raciocínio e, com o tempo, a autonomia da pessoa. O impacto não é apenas emocional e social: os custos globais com a demência ultrapassam US$ 1,3 trilhão por ano, com projeções de dobrar até 2050.
Por décadas, o diagnóstico precoce e o tratamento efetivo do Alzheimer foram grandes obstáculos científicos. No entanto, o cenário começa a mudar com o avanço das tecnologias de detecção precoce e o desenvolvimento de terapias inovadoras, como o Kisunla, medicamento aprovado recentemente pela Anvisa que promete desacelerar a progressão da doença.
Uma das inovações mais promissoras dos últimos anos é o desenvolvimento de exames de sangue para detecção precoce do Alzheimer. Diferente dos métodos tradicionais (como ressonância magnética ou PET-scan), os testes sanguíneos identificam biomarcadores específicos, como a proteína beta-amiloide e a tau fosforilada, que se acumulam no cérebro anos antes dos sintomas aparecerem.
Esse tipo de exame já está em uso em países como os EUA e está em processo de aprovação em outras regiões, incluindo o Brasil. Ele representa um divisor de águas por ser menos invasivo, mais acessível e mais escalável, permitindo intervenções antes que a degeneração cerebral seja significativa. Para investidores e gestores de saúde, esse avanço abre espaço para startups de diagnósticos, redes de laboratórios e empresas de biotecnologia atuarem em uma área de alta demanda e crescimento.
Outro avanço significativo foi a recente aprovação, pela Anvisa (abril de 2024), do Kisunla (donanemab), medicamento que atua diretamente na redução das placas de beta-amiloide no cérebro — um dos principais causadores da degeneração cognitiva.
Produzido pela farmacêutica Eli Lilly, o Kisunla demonstrou em estudos clínicos a capacidade de retardar em até 35% a progressão do Alzheimer em estágio inicial. Trata-se do segundo medicamento com esse mecanismo aprovado no Brasil (o primeiro foi o Lecanemab), mas o Kisunla tem a vantagem de exigir aplicações menos frequentes e pode ser descontinuado após a remoção das placas. Esse tipo de tratamento abre novas janelas para parcerias entre hospitais, operadoras de saúde e farmacêuticas, além de pressionar o sistema de saúde pública a considerar novas diretrizes para diagnóstico precoce e acesso.
Apesar dos avanços, ainda há desafios importantes: acesso aos tratamentos, custo dos exames inovadores, capacitação de equipes médicas e regulamentação para adoção em larga escala.
Mas uma coisa é certa: a era da inovação no Alzheimer já começou, e ela tem o potencial de transformar não apenas o tratamento da doença, mas o modo como envelhecemos com dignidade e autonomia.
Ouça a rádio de Minas