Combate e controle de arboviroses: avanços cruciais na saúde pública
Em 2024, o Brasil passa pela maior epidemia de dengue, considerando somente os dois primeiros meses deste ano. Dados mais recentes do Ministério da Saúde indicam que oito estados brasileiros e o Distrito Federal concentram 91% de 1.253.000 casos da doença notificados até 5 de março. Já são 299 mortes por dengue e 765 óbitos em investigação, magnitude de transmissão acima daquela verificada em 2023. (Fonte: Agência Senado)
As doenças transmitidas por arbovírus, como a dengue e a chikungunya, representam um desafio significativo para a saúde pública em todo o mundo, especialmente em regiões tropicais e subtropicais. No entanto, avanços recentes em tecnologia e pesquisa têm oferecido novas esperanças no combate e controle dessas enfermidades, destacando a importância das inovações neste campo.
Epidemia global das arboviroses: desafios e necessidades
A dengue e a chikungunya são causadas por vírus transmitidos por mosquitos, principalmente o aedes aegypti. Essas doenças não só impactam a qualidade de vida das populações afetadas, causam perdas humanas, como também representam uma carga significativa para os sistemas de saúde, resultando ainda em ausências no trabalho e na escola, além de impactos econômicos negativos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que existam anualmente cerca de 390 milhões de infecções por dengue em todo o mundo, com aproximadamente 96 milhões desses casos apresentando manifestações clínicas. Além disso, a chikungunya tem sido relatada em mais de 100 países, afetando milhões de pessoas anualmente.
Inovações no diagnóstico e monitoramento
Uma das áreas cruciais de inovação no combate às arboviroses está no diagnóstico rápido e preciso. Testes rápidos baseados em técnicas como PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) e sorologia têm se mostrado eficazes na detecção precoce dessas doenças, permitindo uma resposta rápida e direcionada.
Além disso, o desenvolvimento de tecnologias de monitoramento, como aplicativos móveis e sistemas de vigilância epidemiológica baseados em dados geoespaciais, tem permitido às autoridades de saúde acompanhar de perto a propagação das arboviroses e implementar medidas preventivas de forma mais eficaz.
Vacinas: uma ferramenta fundamental na prevenção
A disponibilidade de vacinas é uma das maiores inovações no controle das arboviroses. No caso da dengue, a aprovação da vacina representa um marco significativo. De acordo com informações divulgadas pelo Instituto Butantan no final de 2023, o governo brasileiro declarou sua intenção de incluir a proteção contra a dengue, desenvolvida pelo instituto, no Programa Nacional de Imunizações (PNI). A vacina Butantan-DV, com uma taxa de eficácia de 79,6% após uma única dose, conforme revelado pelos resultados recentemente divulgados do ensaio clínico de fase 3, demonstrou-se particularmente relevante em situações de epidemia, onde a rápida imunização da população é vital. Além disso, esse esquema vacinal simplifica a logística e promove uma maior aceitação da vacinação. No momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou duas vacinas contra a dengue, ambas exigindo de duas a três doses para alcançar a imunização completa.
A vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, além de induzir uma resposta imunológica robusta com apenas uma dose, tem a perspectiva de ser disponibilizada pelo sistema de saúde pública, caso obtenha a aprovação do órgão regulador. Além disso, Minas Gerais pode ser o berço de duas inovadoras vacinas contra a dengue, ambas construídas com tecnologia inteiramente nacional. Desenvolvidas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), essas vacinas têm o potencial de reduzir os custos em até 50% em comparação com as vacinas importadas atualmente utilizadas no Brasil.
O desenvolvimento contínuo de novas vacinas e estratégias de imunização têm o potencial de reduzir drasticamente a incidência dessas doenças.
Controle vetorial e engenharia genética: abordagens promissoras
Além das medidas tradicionais de controle de mosquitos, como a eliminação de criadouros e o uso de inseticidas, novas abordagens baseadas em engenharia genética estão sendo exploradas. Por exemplo, mosquitos aedes aegypti geneticamente modificados para serem estéreis ou transmitirem genes letais para suas crias têm mostrado promessa na redução das populações de mosquitos vetores.
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelam uma descoberta com potencial para auxiliar no tratamento da forma mais severa da doença.
Durante o período de 2013 a 2019, um estudo comparativo foi realizado em pacientes voluntários, divididos em grupos de dengue leve e grave. Este estudo, liderado pela pesquisadora e biomédica Marcela Gonçalves, identificou que, ao ser infectada, uma pessoa sofre uma disseminação do vírus pelo corpo, desencadeando a ação das células pró-inflamatórias, controladas por células reguladoras. No entanto, em alguns pacientes, ocorre uma disfunção dessas células reguladoras, levando à multiplicação descontrolada das pró-inflamatórias, o que pode resultar na forma grave da dengue ou até mesmo em óbito.
A pesquisa realizada pela UFMG revelou que a ausência funcional das células T reguladoras é um dos fatores que contribuem para esse descontrole inflamatório, sugerindo um caminho para o tratamento e prevenção de casos graves de dengue. Essa descoberta abre portas para o desenvolvimento de novas terapias, proporcionando um entendimento mais completo sobre a dengue grave e aproximando-se de soluções eficazes.
As inovações no combate e controle da dengue e outras arboviroses são fundamentais para enfrentar esse desafio global de saúde pública. Desde avanços no diagnóstico e monitoramento até o desenvolvimento de vacinas e novas abordagens de controle vetorial, essas tecnologias têm o potencial de transformar a forma como lidamos com essas doenças, salvando vidas e melhorando a qualidade de vida das comunidades afetadas. No entanto, é crucial que essas inovações sejam acompanhadas por esforços coordenados de implementação e colaboração entre governos, organizações de saúde e comunidades locais para garantir seu sucesso a longo prazo. Importante destacar o papel crucial da população para o controle dos focos do mosquito.
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