Conheça a importância de instituições de pesquisa para a soberania nacional
Muito se fala sobre o potencial do Brasil em ser o “celeiro do mundo” e a possibilidade de fornecimento global, não apenas de commodities, mas também de produtos com maior valor agregado. Aí vemos mais uma vez a importância da inovação para o desenvolvimento de novas tecnologias, aumento de produtividade e outros benefícios. Neste contexto, convidamos para uma entrevista exclusiva Sara Rios, Pesquisadora da Embrapa, Engenheira Agrônoma com Doutorado em Genética e Melhoramento, atualmente, chefe-adjunta de Transferência de Tecnologias da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas e que também é destaque na lista Forbes das 100 mulheres doutoras no Agro, cujos dados e informações valiosos são compartilhados a seguir:
O PIB do agronegócio brasileiro em 2023 representou 24% do PIB nacional, segundo dados do Cepea. O Valor Bruto de Produção Agropecuária (VBPA) atingiu R$ 1,36 trilhão, com 70% desse valor proveniente de produtos vegetais e 30% de produtos animais. A soja e o milho são os principais produtos, gerando quase R$ 500 bilhões.A balança comercial, a produção nacional e as exportações do agronegócio são favoráveis ao Brasil. Contudo, há oportunidades para aumentar a agregação de valor e a complexidade econômica. O Brasil possui tecnologias para explorar novas fronteiras agrícolas, reconverter pastagens degradadas e lidar com desafios. O País é um exemplo em práticas ESG (ambiental, social e governança), exportando selos de sustentabilidade e indicadores de pegada de carbono, o que atrai investimentos. Leis ambientais rigorosas, o Plano Safra e políticas como o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) fortalecem o setor agropecuário. O Brasil é referência em agricultura tropical, compartilhando tecnologias com outras nações de clima semelhante e participando de discussões globais sobre clima e sustentabilidade. A presidência temporária do G20 e a sede da COP30 em 2025 também reforçam a posição de destaque do Brasil no cenário internacional.
Essa posição de destaque do Brasil se deve à atuação de instituições como a Embrapa, que tem a inovação como parte do seu DNA. Este ano completou 51 anos, e muitas novidades já são percebidas na instituição que tem como objetivo olhar para o futuro e internalizar processos, mudanças e oportunidades que favoreçam seu protagonismo no nível nacional e internacional.
No passado, as fronteiras, nova ocupação e ordenamento de territórios foram movimentos crescentes de expansão da produção ao campo. O futuro que já estamos vivenciando nos campos e nas cidades é aquele de sofisticação e complexidades econômicas com graus logarítmicos de exigências ESG. A programação de PD&I da Embrapa se mantém desde a década de 70 alinhada às agendas nacionais e globais e continua inovando para entregar uma agricultura brasileira referência em transições alimentares, climáticas, energéticas e digitais. Alimentos do futuro, inclusão socioprodutiva e arranjos estratégicos de produção, saúde única, agricultura de baixa emissão de gases de efeito estufa, conservação, uso e agregação de valor à biodiversidade brasileira são exemplos de negócios emergentes de interesse e foco de atuação da empresa.
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As agendas globais exigem sistemas produtivos intensificados, integrados, rastreáveis, com efeito poupa terra e poupa água, reconversão e regeneração de ecossistemas para uma economia cada vez mais bio e verde. Isso posiciona o Brasil como modelo de sucesso em produção agropecuária de alta sustentabilidade, exportando não somente a soberania alimentar do planeta, mas também inovações agropecuárias, indicadores e rastreabilidade ambiental. O Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa traz insights, em seu Documento Visão de Futuro, para as oito megatendências orientadoras de programação de pesquisa, desenvolvimento e inovação para as instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação do mundo.
A inovação contínua incremental e disruptiva são exigências básicas para o agronegócio brasileiro, em todas as suas áreas. A Fitotecnia (alimentos do futuro, agricultura regenerativa, intensificação e integração de sistemas produtivos, bioprodutos para controle de pragas, doenças e otimização de fertilizações etc.), a Biotecnologia (desenvolvimento de novos eventos transgênicos, edição gênica, marcadores moleculares, genômicas etc.), a Fertilidade dos Solos (adubação inteligente, manejo de microbiota e relação com plantas e meio ambiente, adução de sistemas produtivos, etc.), a Irrigação (subótima, por novos métodos de maior eficiência no uso e manejo de água), a Mecanização Agrícola, especialmente para cultivos de pequena escala, são exemplos de áreas agronômicas de alto impacto e alta dependência contínua por inovação. Tão importante quanto os aspectos agronômicos, são as áreas afins relacionadas à Big Data e inteligência artificial (geração e integração de dados para suporte às tomadas de decisão no campo e nas agroindústrias, assim como suporte à gestão econômica e efetividade dos sistemas de cultivo), logística e armazenagem, para efetividade e maior eficiência da produção nacional, reduzindo o Custo Brasil e acesso facilitado à informação real, confiável, de qualidade, tratada e simplificada.
Neste processo, a inovação aberta é essencial para acelerar o desenvolvimento de soluções, reduzir riscos e custos, e aumentar a efetividade das entregas. A Embrapa Milho e Sorgo é um exemplo de sucesso nesse modelo, com quase 90% de seus projetos focados em inovação aberta. Cabe destaque a três tecnologias:
Inoculantes biológicos a partir de Bacillusthuringiensis: Parceria com as empresas Bioma, Simbiose e Corteva, para otimizar o uso de fertilizantes fosfatados.
Sistema de Produção Antecipe: Permite antecipação de cultivos com plantio intercalar de culturas, desenvolvido em parceria com a empresa de máquinas Jumil, resultando na criação de uma semeadora-adubadora específica baseada em um protótipo patenteado pela Embrapa.
Milho transgênico 100% brasileiro: Primeiro milho transgênico brasileiro resistente a lagartas, em parceria com Helix Sementes e Mudas.
Sara destaca ainda que para o Brasil se manter na vanguarda de inovação agropecuária é preciso continuar investindo em ciência tropical e desenvolvimento de tecnologias e soluções para temas emergentes e de futuro; fortalecer continuamente o seu papel e participação nos ecossistemas de inovação e fóruns globais ESG em todo o mundo; fortalecer políticas públicas em bioeconomia e agricultura regenerativa; promover continuada e aceleradamente as ações de agregação de valor à biodiversidade brasileira; fortalecer ações de comunicação e transferência de conhecimentos e de tecnologias para o setor produtivo e stakeholders público-privados das diferentes nações.
*Conteúdo produzido por Janayna Bhering
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