Como liderar quando existem tantas expectativas?
São muitas as idealizações a respeito da liderança.
Para os contratantes, o líder é a resposta para todos os problemas que tenham relação com as equipes: de falta de motivação a baixo desempenho, passando por aprimoramento de processos e inovação para garantir a longevidade do negócio.
Para a equipe, no líder deveriam estar as respostas para incertezas e angústias, bem como os antídotos para as dificuldades de crescer. Se algo foi mal é porque o líder precisaria ter planejado melhor, articulado melhor, convencido quem precisava ser convencido e defendido quem precisava ser defendido.
Na relação com os pares, é desejável uma dose superior de carisma e simpatia, capazes de dissolver qualquer tendência competitiva que atrapalhe o bom relacionamento entre as lideranças.
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Quem se propõe a ser líder tem suas próprias expectativas. Engajar e trazer as melhores contribuições dos colaboradores, apresentar os melhores resultados para a chefia, se fortalecer como autoridade e figura de referência, trazer harmonia e cuidar da saúde física, mental e emocional de todos sem esmorecer… a lista não parece ter fim.
Comecei o texto dizendo que essa liderança é uma idealização. Mesmo sabendo disso, ao escrever, me pego acreditando nessa figura impossível. Afinal, sabemos o que acontece com uma mentira contada muitas vezes.
Como podemos definir o que seria um maravilhoso líder possível?
Existe uma metodologia de conversa chamada Colheita Coletiva de Histórias, que se propõe justamente a responder perguntas importantes a partir de histórias reais.
Funciona assim: um conjunto de histórias é selecionado, com base na complementaridade das narrativas. Histórias de setores diversos, de projetos externos de grande visibilidade, de projetos internos de grande importância, de contextos de crescimento e contextos de crise… importante: os contadores dessas histórias precisam ter vivenciado o que vão contar.
Um conjunto de ouvintes é trazido para ouvir cada uma dessas histórias, que serão contadas em paralelo – cada uma em sua roda, dentro de um mesmo espaço físico, nos mesmos 20 ou 30 minutos.
A cada ouvinte de cada roda é atribuído um foco de escuta. O mesmo conjunto de focos de escuta se repete nas diversas rodas.
Depois de ouvidas as histórias, ouvintes portadores de um mesmo foco de escuta se juntam para aprender sobre aquele assunto (a partir das conclusões tiradas da escuta das diferentes histórias).
Seria muito legal trazer bons contadores de histórias que tenham convivido com líderes admiráveis, para falar de seus feitos sem idealizações. Contando sobre momentos em que esses líderes não foram tão bem, para estudarmos como líderes reais, feitos de carne e osso, se comportam. O que faz deles seres humanos especiais? Como eles se tornaram esses seres humanos? O que fazem quando se deparam com a vulnerabilidade de sua própria condição humana? Como cuidam de suas feridas e frustrações?
Desconfio que seria muito bom para todos nós que descobríssemos o valor e a beleza de sermos humanos e que partíssemos exatamente daí para pensarmos nas lideranças.
Passaríamos a ser mais justos e menos ingênuos, mais solidários e mais solícitos, para o bem dos inúmeros propósitos que carecem de líderes de verdade.
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