Liderança em diálogo

O que o líder deve conversar no coletivo?

Líderes de vários setores preferem conversar no um a um, pessoa por pessoa

Por falta de vivência de boas conversas em coletivo, líderes de vários setores preferem conversar – especialmente quando o assunto não é simples – no um a um, pessoa por pessoa.

Ocorre que é justamente quando o assunto não é simples que precisamos mais uns dos outros.
Justamente quando não é simples, nosso ponto de vista é apenas a vista de um ponto. Nesses momentos, as situações precisam ser melhor entendidas e os combinados melhor firmados. Justo nessas ocasiões, precisamos da atenção de todos para imprevistos serem melhor cuidados. Ou acontecendo o previsível indesejado, que haja braços, mãos e ombros que possam se apoiar mutuamente.

Estive acompanhando uma escola participante de um projeto, no qual oriento lideranças a realizarem a mobilização e engajamento de pais, mães e responsáveis por seus alunos.

Escolas são organizações que, com raras exceções, desejam secretamente (ou nem tanto) que as famílias não se conversem. As famílias são aconselhadas a procurarem a escola para conversas individuais agendadas. Quando é inevitável, a escola chama as famílias envolvidas num incidente específico para conversar em ambientes bastante controlados, contando com sua mediação onipresente, e espera que as famílias sigam direitinho as orientações transmitidas.

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Lamento informar: o mundo e os acontecimentos são maiores do que a escola – e sua estreita janela de observação – pode processar e “resolver”. Em resumo: não dará certo, qualquer que seja a questão.

A CoCriar, empresa especializada em conversas da qual sou sócia, foi chamada para intervir numa organização depois que a alta liderança identificou que as relações na média liderança estavam corroídas por intrigas de corredor. Essas questões nunca apareciam nos fóruns coletivos. Eram conversadas um a um o que estava causando muita ineficiência – gasto de recursos, energia e tempo – sem levar a um resultado satisfatório. Essa mesma alta liderança insatisfeita não abria mão das conversas um a um como estratégia de resolução de problemas, acreditando que dessa forma evitaria “expor as pessoas”.
Existem tantas e tantas formas de, em conversas coletivas, não expor as pessoas!

Iniciei esse texto dizendo que a falta de vivência de boas conversas, a falta de repertório e de estratégias, é o que as torna as conversas coletivas ameaçadoras.

Posso compreender que vítimas de conversas desastradas não se apresentem para novas conversas com as mesmas boas posturas (abertura, confiança, comprometimento, generosidade, curiosidade, resiliência, protagonismo…) que são requisitos para a realização de conversas realmente boas.

Talvez precise haver um trabalho para além das organizações, algo que aconteça distanciado das necessidades de sobrevivência materiais e emocionais, que possa demonstrar o valor das conversas coletivas para quem nunca as viveu ou para aqueles que, de tão machucados, já desistiram.

Nesse momento percebo que não falo mais para líderes… Falo para mim mesma, especialista nessa área. E falo para qualquer ser humano que se sinta chamado. E se a solução para nossas questões está em aprendermos a conversar coletivamente?

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