Liderar para a inovação
Como facilitadora de conversas, conduzi muitos encontros voltados para a cocriação de novos produtos, de stands inovadores, de atendimento revolucionário, alguns exercícios de futurismo e diálogos sobre tendências.
O que esses encontros tiveram em comum? Principalmente duas coisas: pessoas diferentes (convidadas por trazerem pensamentos que não seguiam a lógica predominante) e combinados explícitos de que nenhuma ideia seria censurada ou considerada ruim até o momento de análise para priorização.
Ideias malucas, pelo contrário, seriam aclamadas por serem importantíssimas para contribuir para a soltura do grupo. Notem: o nível de criatividade é diretamente proporcional ao nível de liberdade e permissão dada ao criador (pelos outros e por ele mesmo).
Liderar para a inovação é uma missão sofisticada, visto que o sucesso está em realizar algo muito diferente e surpreendente (onde liberdade e divergência, no sentido de ampliar o leque de proposições, são essenciais), mas que acerta em cheio no gosto do público (o que significa foco e contornos muito precisos). A própria previsão do que o público irá gostar, feita a partir do olhar pelo retrovisor, tende a reproduzir mais do mesmo.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
É quase como dizer que querer acertar atrapalha a inovação. E quem contrataria um líder que não tenha como objetivo acertar?
Quem reler o segundo parágrafo desse texto, encontrará a chave para essa sinuca de bico. Quem observar a natureza, também perceberá. Existem momentos para uma coisa e para outra. O segredo está na flexibilidade em estreita parceria com o discernimento.
O diamante da inovação começa ampliando, divergindo, incluindo, acolhendo. Vai até “zona de reclamação”: uma zona desconfortável em que tudo o que se sabia já foi aportado, mas a solução ainda não surgiu. Se evitamos o desconforto não chegamos às descobertas inéditas de fato. Um líder que se propõe a conduzir processos de inovação deve conduzir a equipe, com muita segurança psicológica, para este momento de quase desespero (do contrário, elas não embarcam verdadeiramente na aventura!).
Ao chegar na zona de reclamação, o que ele deve fazer? A resposta é simples e muito difícil: sustentar o não saber. Aguardar que tudo o que foi explorado anteriormente comece a produzir novas sinapses. Aguardar que uma e outra observações inicialmente tímidas e inseguras abram o caminho e ajudem a construir conclusões e ideias mais robustas.
Falei anteriormente sobre a importância da segurança psicológica e passo a ampliar essa proposta para a importância da saúde mental mais ampla nesse processo criativo. É preciso estar muito equilibrado e centrado para realizar bem a tarefa de abrir mão das próprias certezas, de abandonar a segurança do conhecido e se lançar na aventura de inovar. É preciso saúde mental para se permitir errar, para abraçar o contraditório, para dar crédito ao diferente (que talvez se sobreponha à obra que se vinha construindo até então).
Liderar para a inovação é abrir caminhos, combater resistências e convidar a diversidade para entrar. Mas também tem um lado voltado para o cuidado e para a segurança das pessoas que produzem a inovação.
Do que se conclui que, também quando o assunto é inovação, cuidado, segurança e acolhimento fazem toda a diferença para produzir os melhores resultados.
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