Liderança em diálogo

Líderes e as fofocas no trabalho

O que é tolerado tende a ser percebido como permitido

Viajando a trabalho para regiões distantes do nosso País, me deparo com uma matéria no telejornal local que me fez refletir sobre liderança: as fofocas no ambiente de trabalho.

Fofoca é uma narrativa negativa sobre alguém, que circula de forma invisível para o principal interessado, pelo menos inicialmente. São julgamentos que apontam para a condenação, sem possibilidade de defesa pelo réu.

Os fatores podem ser múltiplos. A fofoca pode ser resultado da falta de escuta sincera de um lado, ou da falta de coragem para lidar com as emoções e com as argumentações do outro. Pode ser parte de uma cultura de competição, em que os indivíduos obtêm ganhos ao jogar o jogo do “nós contra eles”. Pode estar a serviço de mecanismos psicológicos mais complexos, relacionados aos personagens que a pessoa encena no palco da própria vida.

Definitivamente não é papel do líder intervir em questões intrapessoais, domínio das psicoterapias. No máximo ele poderá recomendar de forma muito cuidadosa, numa conversa privada, que a pessoa busque trabalhar suas dificuldades em campos específicos que interferem em seu desempenho.

Nas questões interpessoais – relativas ao relacionamento entre duas ou mais pessoas – existe a possibilidade de atuação nos espaços de feedback individual, mas é importante também identificar as mensagens que os líderes, com seus posicionamentos públicos (ou ausência deles) passam para a equipe.
Cultura é o modo de ser e de fazer as coisas e tem por base as regras, declaradas ou apenas percebidas, de como funciona aquele sistema.

O que é tolerado tende a ser percebido como permitido. O que é incentivado ou facilitado será percebido como valorizado. O que for incoerente levará as pessoas a criarem teorias malucas.
Voltando à fofoca, um líder que se vê enredado em intrigas pode tomar a decisão de abrir a discussão publicamente. A depender do tom utilizado, passará a mensagem de que deseja e valoriza a franqueza, ou talvez passe a impressão de que está disposto a se vingar através do constrangimento daqueles que ousaram se opor a suas vontades.

Se decidir resolver a questão em conversas individuais e não fizer nenhum tipo de pronunciamento coletivo, seu movimento poderá ser interpretado como a adesão ao sistema das fofocas como meio preferencial de comunicação.

A essas alturas, o leitor já deve ter mapeado a minha constante opção por colocar tudo respeitosamente às claras, sempre. Realmente confio neste método como o mais efetivo e que dá menos trabalho no longo prazo.

Me dou conta de que, na minha própria opinião, minhas sessões de mentoria mais interessantes foram as que ajudaram líderes a desarmar este tipo de bomba relógio (os não ditos que corroem as relações e os propósitos).

Para mudar a cultura das fofocas a gente também precisa mudar as conversas. Que cultura as conversas que você tem promovido estão reforçando?

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