Liderança em diálogo

Líderes e o reconhecimento profissional

Saber mais sobre os próprios talentos é mais poderoso do que pode parecer
Líderes e o reconhecimento profissional
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Ao pensar em desenvolvimento profissional, temos a tendência de querer preencher as lacunas, oferecer cursos e treinamentos, falar sobre “oportunidades de melhoria” nos feedbacks (sempre equilibrando com algum aspecto positivo, como manda o manual do bom líder, mas sem que a energia esteja realmente focada ali). Raramente pensamos no desenvolvimento de pessoas como um processo de curadoria.

Explico.

No último encontro do ano, uma líder que faz mentoria comigo falou sobre seus novos desafios e em que medida as nossas sessões de mentoria contribuíram para enfrentá-los. Não pude deixar de notar que as observações mais bombásticas que fiz podem até ter tido algum efeito importante, mas o que realmente fez a diferença no processo de fortalecimento dessa líder foi ter contado com alguém atento para apontar, em meio ao caos, os recursos que ela já trazia consigo e poderia colocar mais em ação.

Me lembro de, quando pequena, sentar com minha avó para separar os grãos feios de arroz daqueles grãos sadios, íntegros, bonitos. Posso assegurar: eram os grãos bonitos que traziam a energia necessária para seguirmos em frente naquele trabalho meticuloso e um tanto cansativo de refinar nossa entrega final para o almoço de família.

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Tenho certeza de que, nas equipes de cada leitor dessa coluna, existem habilidades e talentos notáveis que poderiam ser exaltados, mas que nem sempre são percebidos ou destacados em meio à rotina do dia a dia.

Estou aqui me investigando para entender como eu própria desenvolvi esse olhar para o que é potência. Acredito que sejam duas experiências – bem distantes das salas de aula e das corporações – que me trouxeram aqui.

A primeira é ter ido, durante certo período da minha vida, acampar numa florestinha desprovida de qualquer recurso (de água, luz, gás ou mesmo caminhos que se pudesse trilhar). Aos poucos fomos abrindo caminhos, uma pequena clareira, colocamos um rudimentar sistema de captação de água da chuva, descobrimos geometrias nas árvores que propiciavam adaptações para mancebos, suporte para redes, etc. Ali aprendi que tudo que entendemos ser normal, já é resultado de muito trabalho, muito tempo investido e muitas invenções acumuladas. Essa experiência me presenteou com a capacidade de olhar para o mundo e para as criações das pessoas com admiração.

A segunda foi ter produzido na vida muitas ideias que não vingaram. Projetos, iniciativas, negócios, ativismos e comunidades que precisaram ser abandonados por não terem se mostrado suficientemente mobilizadores. Ou estruturados. Ou lucrativos. Ou nutridores. Disso concluí que, se algo passou a existir e se consolidou, necessariamente contou com uma boa combinação de talentos e recursos.

Vou deixar o texto assim, apesar de me ocorrer nesse momento algumas ressalvas aos parágrafos anteriores. Privilégios estruturais, ilusões do “self mande man”, coisas muito complexas para desenvolver nos poucos caracteres que me restam no espaço dessa semana.

Fiquemos com essa mensagem apaziguadora: tudo que existe está fundado em habilidades, recursos e dedicações que podemos observar e enaltecer.

E saber mais sobre os próprios talentos é muito mais poderoso para o desenvolvimento de um profissional do que pode parecer.

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