Liderança em diálogo

Líderes que vieram de cargos técnicos

Tornar-se líder significa virar uma chave, reposicionar-se

É bastante comum que técnicos de destaque, organizados, que fazem boas entregas e se comunicam com clareza e discernimento, em algum momento, sejam convidados a se tornarem líderes de suas equipes.

Não parece uma decisão ruim. Certamente é uma perspectiva mais promissora do que promover técnicos menos organizados, menos criteriosos ou com maior dificuldade de comunicação. Em alguns contextos, trazer um líder não técnico, que nada entende da especificidade do trabalho, também teria seus desafios (em especial o de conquistar o respeito de um time essencialmente técnico).

É uma aposta inteligível: a pessoa sabe o que precisa ser entregue, é capaz de se relacionar e de estabelecer combinados, então é só atribuir a ela um poder adicional e nada dará tão errado assim, correto?

Bem, tornar-se líder significa virar uma chave, reposicionar-se.

Um aspecto que nem sempre é óbvio, especialmente para pessoas que se destacam em áreas técnicas, é que um líder torna-se responsável pelos resultados da equipe, mas esses resultados acontecem através dos outros. A partir desse momento, ele não executa as tarefas que levarão ao resultado. Se o líder se distrai e por qualquer motivo se envolve na execução, ele deixa vaga a posição de supervisão (e, pela Lei de Murphy, isso vai ocorrer justamente quando algo necessita de sua intervenção).

Segundo aspecto importante: um líder precisa aprender a dar autonomia para seus liderados se quiser ter uma equipe de alta performance. A forma como cada pessoa trabalha não deve ser objeto de microgerenciamento e controle. O líder deve estar atento aos resultados que estão sendo produzidos (desejados ou não, planejados ou não) mas permitir ao liderado exercer seu protagonismo, fazer escolhas, propor inovações.

O técnico do passado precisa desenvolver um profundo desapego e muita maturidade emocional. Como técnico, ele perdeu o emprego que tinha. Como líder dessa equipe, ele não conta mais com o excelente profissional que existia no cargo que ele ocupava antes de assumir a gestão.

Essa consciência poupará muito clima ruim. Procurar a si mesmo na equipe fatalmente é traduzido como falta de confiança, desempoderamento, desengajamento, levando a falta de produtividade.

Uma terceira grande mudança: as questões de desempenho de sua equipe são, a partir desse momento, sua responsabilidade. Não faz o menor sentido reclamar de seu time – ou de um liderado específico – para seu chefe.

Conversa de líder com o chefe tem essa cara: estou acompanhando os desdobramentos do projeto X, estamos com o desafio Y, que está sendo enfrentado da forma Z. A depender da resposta, temos o plano A e o plano B. Fulano recém-contratado está excedendo expectativas e em breve precisaremos reconhecê-lo de alguma forma por suas realizações. Ciclano tem apresentado dificuldades em X aspecto, encaminhei um pedido de treinamento para a área de gente e preciso que você reforce a importância dessa solicitação. Beltrano, que vinha tendo baixa performance, melhorou muito depois do feedback sobre o qual conversamos na última reunião. Continuo acompanhando e te informo se algo mudar.

“Sabe o que precisa ser entregue, ser capaz de se relacionar e de estabelecer combinados”, como se pode observar, é apenas uma pequena parte do trabalho de um líder.

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