Liderança em diálogo

Qual o propósito de tudo isso?

Como é possível liderar algo que você não conhece bem?

Faço parte de um projeto em que quatro diferentes organizações entregam, juntas, um programa complexo. Criado por uma quinta organização, que além de coordenar as demais, presta contas ao financiador. Orquestrando toda essa articulação, existe um gestor.

São quatro as organizações envolvidas basicamente porque cada uma delas tem uma especialidade (nenhuma poderia fazer o trabalho que a outra faz). A conclusão direta é que o gestor também não tem a menor condição de conhecer a fundo o trabalho de qualquer uma delas.

Como é possível liderar algo que você não conhece bem?

Vejo dois caminhos possíveis: o primeiro é confiar no plano de trabalho, na lista de entregas, nas cargas horárias previstas, no cumprimento de prazos e no cronograma físico financeiro como garantidores de efetividade do projeto. Para ter sucesso na gestão bastaria organizar os controles direitinho para cobrar tudo nos momentos corretos, exigir relatórios e todas as justificativas para itens que saíram do planejado e, principalmente, exigir que os fornecedores entreguem tudo o que se comprometeram a entregar.

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Tenho um mentorado que viveu décadas de gestão em ambientes complexos. Foi ele quem me presenteou com uma das frases mais brilhantes a respeito do que um gerente de fato produz como resultado de sua atuação em ambientes complexos. Diz ele que um projeto é composto de 4 fases: empolgação, constatação dos resultados possíveis, caça aos culpados e premiação dos não envolvidos.
Não sei bem ao certo de que forma alguém num papel como este é contratado, se existe uma orientação clara do que é esperado dele. Talvez o contratante tenha informado que a gestão por documentos era o que se esperava dele.

O que nos leva ao segundo possível caminho para liderar o que não se conhece bem: e se o suposto contratante explicasse os objetivos e os pressupostos que levaram à construção do projeto e contasse ao gestor que o que se espera dele é que empenhe todos os esforços?

Quando liderar pelo propósito virou moda, ouvíamos muito falar sobre liderança inspiradora, que alimentava suas equipes com uma sedutora visão de futuro para gerar motivação e fazer com que tudo acontecesse. Cabia ao gestor escolher se preferia (ou conseguia) ser inspirador ou se permaneceria do jeito que estava, que apesar de não ser uma atuação tão admirável, em alguma medida estava funcionando.

A essas alturas você já deve ter percebido que, na minha honesta opinião, liderar pelo propósito é a única opção viável em contextos de alta imprevisibilidade. O outro caminho leva a um beco sem saída.
Contextos de alta imprevisibilidade não são poucos. Pelo contrário, são a esmagadora maioria. Basta haver um ser humano envolvido que, trazendo outra frase vinda a mim por meio do mesmo mentorado, o imprevisível está contratado.

Liderar pelo propósito significa compreender a direção e fazer o caminho ao andar, em conjunto com quem está na estrada com você. Demanda muita conversa e muita conexão, muita escuta e muita predisposição de criar em conjunto. Mais do que tudo, exige presença, no sentido mais amplo do termo.
Trabalho para seres humanos.

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