Quem os líderes têm chamado para suas reuniões?
Assisti recentemente a um painel sobre Liderança Feminina num evento no interior de São Paulo. Preciso admitir, não foi uma experiência boa.
As convidadas para falar sobre “estratégias e desafios para o desenvolvimento de mulheres em cargos de liderança” foram: uma mentora, uma mulher ligada à indústria, outra à política e a última dedicada à pesquisa acadêmica. Vozes técnicas, vozes da vivência e uma certa diversidade. Talvez faltasse a voz de quem decide, dos que influenciam e os impactados, mas já foi um bom começo.
Ao ir além dessa breve apresentação, a fragilidade na escolha das convidadas ficou evidente.
O trabalho da mentora se voltava para mulheres muito jovens que queriam sair de funções operacionais e se tornar líderes. Etapa anterior às “estratégias e desafios para o desenvolvimento de mulheres em cargos de liderança”. Fugimos do tema, portanto.
A líder na indústria – gerente de meio ambiente numa concessionária de energia – trouxe dados que sugeriram que mulheres na liderança levam empresas a melhores desempenhos em ESG. Interessante pensar no perfil feminino e suas potências, mas como mesmo essa reflexão contribui para “estratégias e desafios para o desenvolvimento de mulheres em cargos de liderança”?
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A diretora da secretaria de turismo de um importante estado brasileiro falou sobre sua própria história de crescimento, baseada em estudar e trabalhar muito mais do que os homens de seu nível hierárquico, o que resultou em estar mais preparada para as oportunidades quando elas surgiram. Com muitos agradecimentos aos homens tomadores de decisão, a primeira apresentação dentro do tema se mostrou indigesta para a feminista que habita em mim, por naturalizar o esforço acima do razoável como fórmula do sucesso para mulheres.
A última painelista, que subiu ao palco dizendo que não entendia porque havia sido chamada para integrar este bloco, provou estar certa ao responder a pergunta da plateia sobre motivos que levam mulheres a não votar em mulheres com a frase “Ninguém vai votar em mulher só porque é mulher: mulheres precisam se provar competentes”. Uma resposta que ignora os privilégios de gênero e também seus efeitos no imaginário geral, incluindo o das mulheres.
A escolha de quem convidar para uma conversa ou reunião é essencial para promover conversas enriquecedoras e significativas. Escolhas conscientes e criteriosas garantem que a inteligência estará presente na sala para aquilo que se pretende alcançar.
Nas reuniões em empresas, vejo muitas reuniões acontecerem sem um pensamento mais refinado sobre quem convidar.
Pessoas importantes para destravar os temas tratados não são lembradas no momento do convite, o que compromete o tempo coletivo também daqueles que não conseguem entender ao certo os motivos de terem sido chamados. “Apenas para se manterem atualizados” é um argumento comum. E dá-lhe trabalho fora do expediente para compensar o tempo perdido.
Convido todos os líderes a refinarem suas habilidades de conectar objetivos almejados à escolha das pessoas a serem convidadas para as conversas.
Os resultados e as pessoas certamente vão agradecer.
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