Liderança em diálogo

Um líder pode lutar contra uma cultura?

Quem são os líderes que promoverão as mudanças sistêmicas desejadas?

Um mito que volta e meia cito em minhas mentorias é o de Quíron. O maior curandeiro da Grécia se tornou o maior curandeiro da Grécia porque tinha uma flecha envenenada na perna. Para encontrar o antídoto desse veneno, ele investigou as mais diversas substâncias, encontrou a cura para milhares de outros males, sem nunca ficar satisfeito com o próprio desempenho. Ou seja, sua maior vulnerabilidade correspondeu a sua maior força.

Às vezes me pego pensando que eu acabo caindo novamente na citação desse mito por atender líderes com propósitos mais amplos. Ou talvez pelo fato de atender muitas mulheres líderes, portadoras como a grande maioria das mulheres do sentimento de insuficiência, de estarem sempre em dívida – a velha síndrome da impostora.

O fato é que, nessa manhã, o mito veio salvar a mim mesma. Me propus a escrever sobre um tema que tem me balançado e me feito questionar minha própria opção de oferecer oportunidades de desenvolvimento para líderes.

Tenho acompanhado dois produtores de conteúdos nas redes que defendem fortemente que, se não alteramos as estruturas das organizações, os líderes pouco podem fazer pelo bem-estar das pessoas.
Um líder sozinho não consegue deixar de participar do moedor de carne humana que são as organizações orientadas à maximização de resultados. Não conseguirá fazer frente às punições e recompensas e, se tentar, ficará ele próprio relegado a uma posição de pouco prestígio dentro desse contexto.

Ao passo que, se a empresa tem um compromisso com resultados sustentáveis, um líder que tenha por hábito tolerar o sacrifício de seus recursos críticos de longo prazo em busca de resultados imediatos não irá se destacar (e talvez nem manterá seu emprego).

Em resumo: segundo esses pensadores, os líderes têm individualmente uma margem de ação e uma influência muito pequenas no sistema.

Talvez por eu nunca ter sido parte da ínfima parcela da população que efetivamente detém o poder para definir os rumos de qualquer coisa, gosto de pensar que todos os que fazem parte de um problema, fazem parte também de sua solução. Essa é minha teimosia.

Pelo fato de eu nunca aceitar completamente a impotência como parte da vida, procuro oferecer para outras pessoas a esperança de que elas também podem fazer a diferença, se tiverem um pouco mais de estratégia. Não é uma esperança oferecida no vazio, porque também eu acredito nela (mas quando ouço demais o que dizem aqueles que investem nas mudanças sistêmicas, a flecha que trago na perna dói um pouco mais doído).

Ultimamente tenho me agarrado à ideia de que quem promoverá as mudanças sistêmicas desejadas são líderes que se desenvolveram no sentido que proponho: uma liderança que cuida melhor das pessoas e do planeta.

Acredito na soberania de cada líder para fazer suas próprias escolhas e trabalho para dar suporte aqueles que decidem abandonar o barco que navega no sentido de nos levar à destruição.
Como o pequeno pássaro que contribui para apagar o incêndio na floresta com a água que leva no bico, eu me sinto, tanto quanto posso, fazendo a minha parte.

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