Coluna

Memórias literárias

Convidado pela acadêmica Antonieta Cunha para dividir algumas ‘memórias literárias’ com o público do projeto “Literatura, muito prazer! – a promoção da leitura literária” – cuja segunda edição acontece amanhã na sede da Academia Mineira de Letras (AML), à rua da Bahia – logo me lembrei de autores e livros queridos, que habitaram, por muito tempo, um lugar de destaque nas minhas estantes.

Lançada pelas Edições de Ouro, a coleção de livros de “A Turma do Posto 4”, assinada por Luiz de Santiago (pseudônimo do escritor português Hélio do Soveral), era composta por mais de vinte e cinco títulos. Em formato de bolso, apresentava à sua imensa legião de fãs, num tempo em que não havia a concorrência da internet e das redes sociais, personagens marcantes como Lula, Cidinha, Carlão, Príncipe e Pavio Apagado, sempre envolvidos na solução de intrincados crimes, ambientados, a cada história, num estado diferente da federação. Também ofereciam envolventes leituras as séries de “A Inspetora”, “Gisele e Prisco”, “Os Seis” e “Bira e Mariinha”, entre outros, que conquistaram o Brasil num tempo em que a leitura desfrutava de mais prestígio entre os adolescentes.

De 1969, o clássico “O gênio do crime”, de João Carlos Marinho, abriu alas para as outras obras do autor carioca, todas em torno do que ele chamou de ‘as aventuras da turma do gordo’: “Sangue fresco”, “Berenice detetive” e “O Conde Futreson”, entre outros. Levado para o cinema em 1973 e já traduzido para o espanhol, o livro conta hoje com mais de sessenta edições.

Escritora do meu coração, a mineira Lúcia Machado de Almeida figurou nas listas dos mais vendidos, por vários anos, com seus inesquecíveis “O caso da borboleta Atíria” e “O escaravelho do diabo”, ambos da mítica Coleção Vaga-lume, da Editora Ática, idealizada pelo excelente Jiro Takahashi. São de sua lavra, igualmente, “Aventuras de Xisto”, “Xisto no espaço”, “Xisto e o pássaro cósmico” e “Spharion”, confirmando o gosto de Lúcia pelas novelas de ficção científica.

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Mergulhado na pesquisa sobre essas minhas primeiras aventuras como leitor, acabei retomando o contato com o rico legado da gaúcha Lygia Bojunga Nunes (ganhadora do Prêmio Hans Christian Andersen, o Nobel da literatura infantil, em 1982), responsável por pérolas como “Os colegas”, “Angélica”, “A bolsa amarela”, “A casa da madrinha”, “Corda bamba” e “O sofá estampado”, todos publicados entre 1972 e 1980. Recuando ainda mais no tempo, cheguei até o célebre “O barquinho amarelo”, de Ieda Dias da Silva, um dos primeiros livros que li, ainda durante o processo de alfabetização, conduzido, com excelência, pela professora Flávia Guerra Pinto Coelho, até hoje brilhando nas salas de aula de Belo Horizonte.

Passando em revista as tantas alegrias que os livros já me proporcionaram, custa-me entender como há tanta gente que até hoje não descobriu o que eles podem acrescentar à vida: os horizontes se ampliam, a imaginação se alarga, a consciência se expande, o repertório cultural aumenta. A gente nunca termina de ler um bom livro do mesmo jeito que começou. Um bom livro muda a gente, para sempre…

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