Coluna

O novo livro de Jorge Fernando dos Santos

Uma cidade é fruto de múltiplas conexões e de infinitas possibilidades. É resultado de uma história complexa, que tece tramas imprevistas, e das redes políticas, econômicas e sociais engendradas ao longo do tempo. É, ainda, o produto da memória de seus habitantes, e o que os seus artistas fabulam a respeito dela, com a potência de seu talento e de seus afetos. Obra em permanente construção, espaço em que convivem o velho e o novo, é cenário para a tragédia e a comédia, o drama, o romance e a aventura. Sua geografia, por isso, não se reduz ao território físico. É também sensorial: visual, tátil, olfativa, gustativa… e sonora.

É o que Jorge Fernando dos Santos prova aos leitores de “Belo Horizonte em letra e música” (Editora Miguilim, 396 páginas), lançado recentemente na Livraria da Rua, na Savassi, e agora disponível à fruição dos leitores.  Dedicado à memória de Clésio Vargas, Dirceu Cheib, Fernando Brant, Helena Penna e Tião Rodrigues, suas epígrafes são bem conhecidas. A primeira é de Rômulo Paes: “A minha vida/ A minha vida é esta/ Subir Bahia/ E descer Floresta.” A segunda, de Tolstoi: “Canta a tua aldeia e será universal”.

O volume é um documento rigoroso e completo sobre as diversas trilhas musicais de Belo Horizonte.

Nada escapou ao escrutínio meticuloso e sensível do pesquisador competente, do jornalista experimentado e do escritor de texto fluido e elegante. Nele, Beagá aparece ricamente retratada por compositores de todas as origens e formações, desde a sua fundação, em 1897, até atualidade.

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Nomes como Rômulo Paes, Gervásio Horta e Pacífico Mascarenhas têm sua produção analisada com minúcia e capricho, assim como acontece com os legados inestimáveis de Fernando Brant, Vander Lee e Flávio Henrique. Sem restrições de qualquer natureza, em dicção inclusiva e democrática, capaz de flagrar as manifestações emanadas do centro e das periferias, dos mundos do samba, do choro, do rock, do reggae e do rap, sem esquecer do Carnaval e dos hinos de exaltação ao município ou às suas principais equipes esportivas, o livro nasce como referência indispensável na bibliografia mais qualificada sobre o tema.

Logo nas primeiras páginas, o autor destaca: “Berço do Clube da Esquina, das bandas Jota Quest, Pato Fu, Skank e Sepultura; e também dos rappers Djonga e Flávio Renegado, Belo Horizonte conservou a tradição do canto coral, das bandas de música e das irmandades congadeiras. Além disso, tem blocos carnavalescos, escolas de samba, grupos de forró, regionais de choro, bandas de jazz, conjuntos de rock, coletivos de hip-hop, muitos violeiros e cantadores reconhecidos nacionalmente, sem falar nas serestas, no canto lírico, nas músicas sinfônica e eletrônica feitas na cidade. Tudo isso constitui um saboroso caldo sonoro, sintonizado com a tradição e as tendências musicais contemporâneas”.

Para consulta frequente, o livro surge com vocação para habitar as mesas de cabeceira e para ultrapassar as nossas fronteiras, tanto pela importância da capital de Minas Gerais no contexto nacional quanto pela legião de belo-horizontinos espalhados pelo mundo, ansiosos para atualizar os amores e matar as saudades.

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