Aquecimento global demanda resiliência climática
Já faz algumas décadas que o tema de aquecimento global vem ganhando força, mas as reações tendem a ser polarizadas e pouco pragmáticas. Há aqueles que são catastrofistas e aqueles que minimizam os riscos.
O termo que tem sido mais útil de um ponto de vista pragmático é o da ‘resiliência climática’, isto é, uma análise do ponto de vista de gestão do risco, onde não se busca uma solução grandiosa ou definitiva do problema, mas sim gerenciar os riscos no nível da empresa, reconhecendo que existe muita incerteza no tema, mas existem riscos tangíveis e reais.
As enchentes no Rio Grande do Sul em 2024 trouxeram o tema para uma posição mais relevante. Muitas empresas simplesmente deixaram de existir ou tiveram suas operações interrompidas por semanas. Embora não seja o fim do mundo no sentido mais amplo, para muitas pessoas e empresas significou uma perda catastrófica.
Um dos efeitos causadores desta enchente se chama tecnicamente de Enso, ou ‘El Niño Southern Oscillation’. Ele consiste na alternância de mudanças no comportamento do clima chamados de El Niño e La Niña. Temos registro dessa oscilação desde 1850, mas ela é provavelmente muito mais antiga.
Não há evidência de que a frequência das oscilações esteja aumentando. Porém, a NOAA fez uma análise estatística e mostrou que existe um aumento de intensidade nos efeitos comparando o período de 1960-2020 com o de 1900-1960.
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Correntemente estamos tendo um efeito de La Niña, que gera um tempo muito seco no Sul e muito úmido no Norte do Brasil. O El Niño gera secas no Norte e Nordeste, temperaturas altas no Sudeste e Centro-Oeste, e chuvas fortes no Sul.
Tais oscilações devem continuar pelas décadas seguintes, possivelmente muito mais tempo do que isso. Não faz qualquer sentido ignorar esse risco, ao contrário se deve pensar como gerenciá-lo.
Existe no Brasil uma tendência de minimizar os riscos de catástrofes naturais pelo fato de não termos terremotos significantes em intensidade, nem vulcões, furacões e maremotos.
Entretanto, temos sistematicamente desmoronamentos causados por chuvas intensas e alagamentos. Estes fenômenos vão além do Enso, e embora sejam aleatórios, podem ser verificados estatisticamente.
Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro costumam sofrer com ciclones extratropicais que passam ao largo de nossa costa, mas provocam chuvas intensas nesses estados. Praticamente todo ano teremos uma chuva forte com alagamentos, e esses fenômenos se intensificam na medida em que o oceano fica mais aquecido.
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