A guerra comercial e seus dilemas
No primeiro governo Trump (2017-2020), houve uma guerra comercial dos EUA contra o mundo, especialmente a China. A mesma estratégia retornou em 2025. O objetivo nas duas ocasiões é trazer uma parte significativa da indústria de volta para o EUA, e com isso uma boa parte dos empregos também, em particular empregos bem pagos da indústria. Este conceito é chamado de Re-shore, oposto do Off-shore.
Há uma percepção entre democratas e republicanos de que certas indústrias têm de voltar para o território americano, em particular a de semicondutores, ou chips. A discordância está na política industrial: democratas preferem subsídios e incentivos; republicanos apostam em tarifas.
O foco deste texto não é determinar qual estratégia é mais eficaz, mas antecipar os desdobramentos da atual guerra comercial nos próximos 6 a 12 meses.
Inicialmente, é preciso pensar num modelo matemático para compreender a situação, e como se trata de uma interação essencialmente entre poucos atores, a teoria dos jogos aparece como escolha natural.
O “dilema do prisioneiro” se mostra como o modelo mais interessante, pois nele dois atores têm de escolher entre as vantagens de cooperar e as de competir. Na guerra comercial temos o mesmo dilema. Os dois lados são beneficiados por manterem tarifas baixas, e com isso um maior volume de comércio, mas cada um deles pode se beneficiar de elevar as tarifas criando uma assimetria a seu favor. Porém, quando ambos aumentam as tarifas, o volume de troca é reduzido para os dois lados.
O dilema do prisioneiro, na sua versão de guerra tarifária, nos aponta que embora a estratégia das tarifas altas seja dominante, o melhor resultado ocorre quando os dois lados mantêm tarifas baixas, só que isto requer mútua confiança.
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O efeito geral do aumento das tarifas em abril criou uma perda da confiança mútua não somente entre EUA e China, mas entre EUA e diversos outros atores (jogadores). A reação da China aos aumentos seguiu a lógica indicada pelo dilema do prisioneiro de “olho por olho, dente por dente”.
Nos próximos meses, deve ocorrer um cenário similar ao de 2019: recessão em vários países e protestos de grande porte. A turbulência gerada pelas tarifas e pela quebra de confiança compromete o planejamento de demanda e a compra de insumos, provocando o chamado “efeito chicote” na logística: oscilações abruptas entre excesso e escassez de oferta.
Diante da incerteza, empresas tendem a reduzir a oferta e encolher operações, o que resulta em recessão, especialmente nos EUA e na China, potencialmente desencadeando protestos em escala global.
As imagens de portos quase vazios nos EUA, em maio, já indicam que o efeito chicote está em curso. Isso tende a provocar inflação nos próximos meses, seguida de recessão no segundo semestre.
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