Pensando o Futuro

A nova fase da globalização

Políticas protecionistas começaram a ganhar força desde 2018

Ao longo da década de 2020, estamos vendo a globalização mudar de cara por conta de tensões geopolíticas. Isto tem favorecido a América latina, que poderá se beneficiar ainda mais no futuro se houver preparação para isso.

Pode-se dizer que o processo de mudanças começou em 2018 com mudanças políticas na China e nos EUA, mas foi a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, e a volta dos conflitos no Oriente Médio forte a partir de 2023 que elevaram a percepção de risco para as cadeias globais. Com isso, a globalização vem entrando numa nova fase com diversos termos associados.

Muitas empresas começaram a buscar alternativas à China tanto em termos de cliente como fornecedor, mas este não é um movimento muito simples, pois toma tempo e não existe “uma outra China”.

As políticas protecionistas começaram a ganhar força desde 2018 com a primeira guerra comercial de Trump, e se intensificaram neste segundo mandato com as tarifas bastante elevadas.

O que Trump tenta fazer com as tarifas é similar ao que Biden tentava fazer com subsídios, isto é, trazer as indústrias de volta para os EUA num processo denominado de Reshore, ou seja, o oposto do Offshore. Por força da situação na Europa, o Japão e mesmo a China também estão buscando políticas que incentivem as indústrias a se realocarem, ou se manterem dentro de seus territórios.

Mas nem todas as indústrias têm capacidade para pagar os salários e custos do primeiro mundo, então duas outras alternativas surgiram. O Nearshore busca um encurtamento das cadeias de produção e, portanto, menor risco, mesmo que os salários não sejam tão baixos. O Friendly shore busca salários baixos, mesmo que o risco geopolítico seja ainda alto, mas pelo menos ainda existe uma diversificação em relação à China.

Todos estes termos geraram alguns outros termos associados a eles. O primeiro é de Ocidentalização (Westernization), que se opõe à globalização. Isto é, são cadeias globais localizadas no Ocidente ao invés de distribuídas globalmente. O segundo é “China+1”, no sentido de que, embora a China continue a ser relevante, é preciso ter pelo menos mais uma alternativa para caso de crises. O terceiro é “Qualquer lugar menos na China” (Anywhere but China – ABC), no sentido que uma crise envolvendo a China é inevitável no futuro e deve-se fugir desse risco.

Tudo isso está em processo de reestruturação das cadeias globais. O que se estruturou nos últimos 40 anos provavelmente levará décadas para se reconfigurar.

O Brasil tem boa chance de se inserir neste processo pelos termos de Nearshore e Ocidentalização. Porém, para isso, ele precisa melhorar alguns aspectos, tais como uma diplomacia mais neutra, de maneira a atrair investimentos de todas as partes, sem afugentar ninguém. Outro passo importante é uma estabilidade tributária maior, com regras fiscais claras, e que não mudam todo ano.

Se a indústria começar a voltar para o Brasil buscando um “refúgio seguro das guerras” isso pode por sua vez gerar gargalos de mão de obra, energia e logística como já vimos no passado. Isso pode ser resolvido em parte com uma maior abertura para investimentos estrangeiros nessas áreas.

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