A solução para a sustentabilidade estaria em uma nova corrida espacial? Entenda
Em 250 anos, a população saiu de menos de um bilhão de pessoas para mais de oito bilhões. Ao mesmo tempo, o consumo anual de cada pessoa aumentou várias vezes, gerando uma pressão crescente sobre os recursos naturais que só pode ser resolvida com o avanço tecnológico e a ocupação de novas fronteiras produtivas.
Os primeiros a perceberem este problema foram Thomas Malthus e o Marquês de Condorcet, no final do século 18. Malthus entendia que o crescimento mais rápido da população do que o da capacidade produtiva levaria a bilhões de miseráveis em alguns séculos. Para Condorcet, a tecnologia iria avançar e gerar novas fontes de recursos e mais produtividade, e, em poucos séculos, seriam resolvidos os problemas da fome, da miséria, da doença e da tirania.
Nos últimos 200 anos, a realidade esteve mais próxima da visão de Condorcet do que da de Malthus, mas ficamos dependentes da tecnologia avançar para nos alimentar e gerar energia. Projetando 11 bilhões de pessoas com consumo anual individual de três a cinco vezes maior do que o atual, a pressão sobre os recursos naturais será enorme.
Uma conta simples é assumir que atualmente consumimos oito “pontos de recursos” (medida abstrata de consumo de água, comida, energia e metais e que é obtida multiplicando oito bilhões de pessoas por um número que representa o nível atual de consumo anual por indivíduo). No final do século, teremos um consumo de 33 ou 55 pontos, dependendo da premissa de projeção (11 x 3, ou 11 x 5), o que implica que precisaremos de cerca de quatro a sete vezes mais “pontos de recursos”. Algo que só poderá ser obtido por um avanço tecnológico bastante forte.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Ainda há fronteiras agrícolas a serem ocupadas, mas não na quantidade necessária. Como a água potável não pode ser aumentada (já conhecemos todos os rios e lagos), a saída é a dessalinização da água do mar, o que custa muita energia. E as fontes de energia fóssil estão diminuindo, o que implica que não poderemos contar com elas no futuro, e os recursos minerais são abundantes, mas não nesta proporção.
A única saída é buscar recursos fora da Terra, o que requer tecnologias novas que não temos hoje. Aqui mais uma vez ressurge a visão de Condorcet de que a solução do problema da escassez é a tecnologia (agora a espacial).
Estimo que uma estação solar em órbita geoestacionária (Space Based Solar Power-SBSP) de um quilômetro quadrado deve gerar o equivalente a duas turbinas de Itaipu, e esta energia pode ser enviada para Terra por feixes de laser ou micro-ondas.
No cinturão principal de asteroides, entre Marte e Júpiter, existem milhões do tipo metálico. Um deles (16 Psyche) será investigado a partir de 2029 por uma sonda já enviada. Estima-se que ele seja feito de 22,7 quatrilhões de toneladas de ferro, níquel e ouro, enquanto as reservas conhecidas de ferro na crosta terrestre remontam a cerca de 80 a 100 bilhões de toneladas.
Ainda no cinturão, existem muitos de gelo e água. O maior é o 1 Ceres, com diâmetro similar ao comprimento Leste-Oeste da França, e deve ser coberto por cerca de 200 milhões de quilômetros cúbicos de gelo. Para comparação, a água doce da Terra tem um volume de 10 milhões de quilômetros cúbicos.
Na órbita de Júpiter, as luas Europa, Ganimede e Calisto quase certamente têm água debaixo da superfície de gelo, e cada uma deve ter mais água líquida do que todos os oceanos da Terra.
O que o espaço não tem são terras agricultáveis, por isso se pesquisa como plantar vegetais não só em outros planetas, mas em gravidade baixa ou zero, em futuras estações espaciais criadas com estes recursos encontrados no sistema solar interior.
A saída para a sustentabilidade de uma população ainda crescente, e que ao mesmo tempo quer consumir mais e eliminar a miséria, está na nova corrida espacial. Não é coincidência que muito dinheiro tem sido investido em tecnologias como foguetes reutilizáveis.
Ainda nesta década talvez tenhamos a volta de seres humanos à Lua, desta vez para construir uma base permanente no polo sul, perto da Cratera de Shackleton, onde deve ter gelo em quantidade suficiente para manter uma pequena cidade.
Já na próxima década, devemos ver as primeiras bases industriais e militares nos pontos de equilíbrio da gravidade entre a Terra e a Lua, a chegada a Marte, uma série de estações pequenas de SBSP em órbitas geoestacionárias (GEO), e estações de manufatura em órbita baixa (LEO). Nas décadas de 2050 e 2060, a economia espacial crescerá rapidamente e será possível ter um elevador espacial construído no Amapá. Esta economia espacial nascente será tema de uma futura coluna.
Ouça a rádio de Minas