Pensando o Futuro

Tecnologia altera preços e permite mudança nos hábitos de consumo

Nos últimos dez anos, por exemplo, vemos a desmaterialização dos automóveis e imóveis, que estão deixando de ser um “sonho” e virando um serviço

Nas últimas décadas, o número de lares brasileiros com televisões e geladeiras cresceu muito. Em 1960 e 1970, ter tais objetos era considerado um luxo. Hoje, estima-se que acima de 90% dos lares brasileiros tenham uma televisão e uma geladeira. É relativamente comum nas classes média e alta ter mais de uma televisão por residência.

A questão central aqui é a redução do custo destes aparelhos com o avanço da tecnologia. Isto permitiu uma mudança nos hábitos de consumo. Tais aparelhos deixaram de ser vistos como bens duráveis, para virarem bens de consumo.

Outro exemplo são as linhas telefônicas que, até os anos 90, eram consideradas como patrimônio, e declaradas como bens no imposto de renda. Isto mudou com a introdução da telefonia celular. Hoje, temos mais celulares do que habitantes no Brasil. Uma linha celular custa praticamente zero, e virou um serviço.

O processo é sempre o mesmo. Um produto surge caro e poucos têm acesso. É visto como um investimento, patrimônio ou bem durável. A família tem de fazer um investimento forte e tenta preservar este objeto, passando de uma geração para a outra.

Mas, ao longo do tempo, a tecnologia avança e os preços caem, por conta do ganho de escala na produção e de curvas de aprendizado. O objeto sai, em duas ou três décadas, de um bem durável, se transforma em bem de consumo, onde ele se populariza, e depois em serviço onde ele se “desmaterializa”.

Nos últimos dez anos, vemos a desmaterialização dos automóveis e imóveis, que estão deixando de ser um “sonho” e virando um serviço.

Nas próximas décadas esse processo irá se aprofundar e transformar a percepção de propriedade na sociedade, bem como o que significa “ter status”, e “ter patrimônio”.

As passagens aéreas estão ficando cada vez mais baratas e serviços de hotelaria cada vez melhores e mais baratos. Isto aponta para um crescimento do turismo em detrimento de comprar uma casa de campo ou ter um carro.

Na medida em que a pressão de tempo no dia a dia cresce, tempo livre vira o “novo luxo”. E, na mesma direção, cresce também o desejo de trabalhar remotamente, o de ter alguns objetos de luxo (relógios, bolsas, joias) e itens de alta tecnologia. Isso permite ao indivíduo se diferenciar e “revelar sua identidade”.

Outra tendência é a de que patrimônio será cada vez mais visto como dinheiro em investimentos. Isto levará a uma sofisticação dos produtos financeiros e de que ser um investidor ou sócio de empresa é ao mesmo tempo “status” e “patrimônio”.

Podemos ver que os hábitos de consumo, e como uma pessoa percebe a realidade e se diferencia, buscando sua individualidade e identidade, se alteram no tempo, em função dos custos dos produtos e serviços. Embora seja difícil de perceber tais mudanças no dia a dia, numa escala de décadas a mudança é bem clara. Ganhos de escala e curvas de aprendizado progressivamente reduzem os custos e alteram a cultura e hábitos de consumo.

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