Alertas climáticos não ecoam entre líderes dos países desenvolvidos nesta COP 29
Enquanto líderes mundiais seguem na COP 29, no Azerbaijão, debatendo e se esquivando sobre quem vai pagar a conta do combate às mudanças climáticas, relatórios alarmantes, alguns divulgados na própria conferência, não parecem suficientes para sensibilizar a negociação.
A Organização Meteorológica Mundial informou, logo no começo da COP, que 2024 caminha para ser o ano mais quente já registrado. A temperatura média do planeta irá superar o limite de 1,5° C acima do nível pré-industrial, como estabelecido no Acordo de Paris.
“As chuvas e inundações recordes, a rápida intensificação dos ciclones tropicais, o calor mortal, a seca implacável e os incêndios catastróficos que observamos em diferentes regiões do mundo, este ano, são infelizmente uma nova realidade e um presságio do futuro”, afirmou a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, em nota.
A atualização do relatório State of the Climate 2024, da OMM, lançado na conferência, mostra que a temperatura média global entre janeiro e setembro esteve cerca de 1,54° C acima dos níveis observados no final do século XIX.
Já o Relatório Mundial das Cidades, lançado pouco antes da COP 29, aponta que mais de 2 bilhões de pessoas podem enfrentar um aumento adicional na temperatura até 2040.
Um tema crítico abordado no relatório é o déficit de financiamento para infraestrutura urbana resiliente. Segundo o documento, as cidades necessitam de um montante estimado entre 4,5 trilhões e 5,4 trilhões de dólares por ano para desenvolver e manter sistemas resilientes ao clima, mas o financiamento atual é de apenas 831 bilhões de dólares.
O alerta do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos é que essa lacuna deixa as cidades, e especialmente as populações mais vulneráveis, cada vez mais expostas a riscos. O relatório adverte para a necessidade de soluções justas e inclusivas, revelando que algumas intervenções climáticas pioraram a vida para comunidades vulneráveis: como as iniciativas de “gentrificação verde”, em que a criação de parques desloca famílias de baixa renda ou aumenta os valores imobiliários. O relatório é também um chamado para a participação social.
O relatório mostra que os esforços para combater as mudanças climáticas nas áreas urbanas estão longe do ideal.
Recentemente, conversamos sobre os desenvolvimentos de planos locais de ação e adaptação climática com os pesquisadores do ICLEI – uma rede global de mais de 2.500 governos locais e regionais, que trabalha o desenvolvimento urbano sustentável em mais de 130 países. Eles chamam atenção para o fato de que os planos de ação e adaptação devem incluir os conteúdos técnicos, claro, mas com a participação social.
O engajamento comunitário tem que ser real, mas, para isso, precisa ser estimulado: é preciso incentivar uma participação ativa das pessoas no planejamento e implementação das medidas de uma cidade.
Por outro lado, precisamos nos envolver: os financiamentos globais em discussão na COP 29 não estão nas nossas mãos, mas exigir o direito de saber sobre a adaptação da sua cidade, sim, está.
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