Como salvar uma morada em chamas

A tecnologia nos trouxe para o mundo em que vivemos hoje. Os inúmeros progressos que proporcionaram mais saúde, conforto, mobilidade, conectividade, mais vida, afinal, também estão condenando o planeta à morte.
O aquecimento global em escala nunca experimentada pelo planeta e a emergência climática por que passamos são consequências cientificamente comprovadas da ação humana. Mas as soluções ou, no mínimo, as adaptações, também estão nas mãos do ser humano. E podem (por vezes, devem) ser baseadas na própria natureza.
O assunto vai orientar a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que tem como tema “Arquiteturas para um Mundo Quente”. As discussões, de 18 de setembro a 19 de outubro, serão pautadas por cinco eixos: “Preservar as florestas e reflorestar as cidades”, “Conviver com as águas”, “Reformar mais e construir verde”, “Circular e acessar juntos com energias renováveis” e “Garantir a justiça climática e a habitação social”.

No mapeamento que fazemos para identificar as soluções ambientais, encontramos em Ravena, distrito de Sabará, um centro que há mais de uma década usa o bambu em projetos de construção que valorizam
justiça social e climática. O Cerbambu (Centro de Referência do Bambu) recebe alunos de todo o Brasil para ensinar a metodologia. A iniciativa está lá no Mapa de Soluções Ambientais do Projeto Preserva.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
A engenheira Júlia Valadares frequentou um dos cursos: “Minha família é de uma fazenda no interior da Bahia, em Ribeira do Pombal. Eu pretendo plantar o bambu e depois construir. Ele fica lindo, é ecológico e sustentável”.
O projeto é comandado por Lúcio Ventania, referência no Brasil e mundialmente reconhecido como mestre bambuzeiro:
“A comunidade acadêmica vem pesquisando e associando o bambu com processos de produção e consumo e a diversos produtos, que vão de talher a painel de automóveis, forro de casa, mobiliário e a própria construção de moradias”.

Ainda considerado uma espécie invasora e alastrante, o bambu deveria “ser considerado uma bênção”, de acordo com Lúcio Ventania. Na China antiga, acreditava-se que o espaço oco entre um nó e outro do bambu era o compartimento de ar mais puro na Terra. “Na África também não é à toa que Iansã é a rainha dos ventos. Ela tem o bambuzal e o bambu como um elemento muito forte no seu axé”.
Ainda segundo Lúcio, o bambu não exige solo e se desenvolve bem no clima brasileiro. Também se reproduz com abundância e é um recurso a mais para sequestro de carbono e regularização do clima.
“Eu penso que nós devemos associar a cultura do bambu a todas as questões sociais. Então imagino que as mulheres negras da periferia serão as protagonistas de uma arquitetura que vai encantar o mundo, pelo frescor do bambu e por essa beleza, essa exuberância do bambu, pelo conforto térmico que ele proporciona, pela fácil trabalhabilidade e por ser algo que ainda não foi absorvido totalmente por essa coisa chamada mercado”, finaliza o mestre bambuzeiro.
Ouça a rádio de Minas