Projeto Preserva

A desconexão humana num mundo conectado como nunca

Lê-se, ouve-se, vê-se muito. Mas falta sentir. E agir.
A desconexão humana num mundo conectado como nunca
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O mundo vive uma abundância de informações inédita. Se você gosta de ler, a internet é um universo infinito, sem precisar sujar os dedos de tinta (como prazerosamente fazíamos, na pré-história), folheando páginas de jornais. Se não tem tanto tempo assim, pode assinar newsletters resumindo tudo, ou por campos de interesse, chegando cômoda e diariamente à sua caixa postal eletrônica.

Não tem tempo de ler? Ouça! Os podcasts brotam sonoramente das telas. Alguns, vitaminados com vídeos. Prefere correr o feed à mercê dos algoritmos de suas redes sociais? Elas estão por aí, irresponsavelmente e intencionalmente desreguladas, para desinformar em medida ainda maior que informar, dependendo da sua curadoria ou vulnerabilidade intelectual.

Fotos e vídeos também são acessados com enorme facilidade. Os recursos para impactar pessoas com imagens nunca foram tão avançados. Num arrastar de dedos no feed, você se transporta para o grande cemitério de roupas no deserto do Atacama, no Chile, e vê algumas consequências dos excessos do consumo humano, vindas principalmente do Norte Global, num fluxo oposto ao percorrido pelas riquezas extraídas do Sul. Ou a ilha de lixo no oceano Pacífico, entre a Califórnia e o Havaí, uma grande massa de plástico acumulada pelas correntes marinhas.

Vemos, ouvimos e lemos sobre as ações humanas no planeta. Nem é preciso ir atrás das renomadas publicações científicas que, há décadas, falam sobre isso. Mas toda essa informação tem sido insuficiente para mudarmos os hábitos. Ou fazer com que, por exemplo, da nossa posição de consumidor(a), as empresas mudem seus modos de produção.

Por que existe essa desconexão entre o que a gente sabe e o que a gente vive? O mesmo acontece com as decisões políticas e econômicas, tomadas no Congresso, nos palácios e nos luxuosos gabinetes das grandes empresas, ou em conjunto por todos.

Precisamos de mais: precisamos sentir. E nem precisa ser na pele, como as pessoas que amargaram as consequências das enchentes de 2024 no Sul do país, ou os habitantes das ilhas no oceano Pacífico, que estão vendo seus países afundarem com a elevação do nível do mar. Basta um pouco de empatia, de solidariedade.

Não adianta o CEO de uma grande empresa se cercar de greenwashing e de palestrantes, coaches engajados a fazer com que se sintam melhor, mesmo agindo contra a humanidade e o planeta (o que Ailton Krenak define como “animador de CEO”). Um dia, essa irresponsabilidade vai ser sentida por ele, pelos filhos e, se chegarmos até lá, netos. É a queda do CEO.

Esta é a nossa 40ª coluna por aqui. Nesse trajeto, procuramos sensibilizar o ICMBio para proteger a Serra do Gandarela, mostrar o esforço de um homem para salvar grandes aves da extinção, de pesquisadores para recuperar habitats, apresentar soluções ambientais que possam ser replicadas e difundidas…

Agora, vamos fazer uma pausa. Voltaremos na segunda quinzena de janeiro. Um bom tempo até mesmo para ouvir, ler, sentir e saber das pessoas o que elas, o que você gostaria de ver por aqui. Ou no mundo à
sua volta.

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