Respostas às questões climáticas devem se basear no diálogo

Ainda que se vejam até hoje toscas manifestações de negacionismo e desinformação, as pessoas com um mínimo de seriedade e responsabilidade estão discutindo os problemas relativos à mudança climática e ao aquecimento global. A Cop30 vem aí, mesmo que cercada da desconfiança de ter sido capturada pelos setores de petróleo e mineração, dois grandes responsáveis pelos problemas a serem debatidos. E, recentemente, em São Paulo, a questão do espaço teve o seu lugar.
“Extremos: arquiteturas para um mundo quente” foi o tema da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que terminou no fim de semana. Durante um mês, vários profissionais, acadêmicos, estudantes, técnicos trocaram conhecimentos em debates, oficinas, que contaram também com a importante participação de representantes de saberes ancestrais e tradicionais.
O Projeto Preserva esteve no Parque do Ibirapuera, onde várias atividades se dividiram entre a Oca, obra de Oscar Niemeyer, e a Umapaz, a Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz. Lá, acompanhamos a oficina “Arquitetos e engenheiros face aos desafios climáticos”, que contou com a presença de arquitetos franceses, brasileiros e indígenas.
Minas Gerais também marcou presença na Oca, com a participação da professora da UFMG Rejane Magiag Loura, que levou para a Bienal uma oficina sobre metodologias para desenvolvimento de Plano de Ação Climática em cidades de pequeno porte. A professora diz que o assunto ainda é novo no Brasil, mesmo porque a discussão sobre o planejamento das cidades é recente e as sobre a questão climática, mais ainda.
“Por isso, o tema da Bienal é tão importante, porque mobiliza arquitetos e urbanistas para olhar a questão de profissionais que se formaram há cinco, dez anos, ou mais. Eu arrisco a dizer que na maior parte das instituições em que eles estudaram, isso nem assunto foi”.
O curador da Bienal, Renato Anelli, considera que a discussão não é levada ao campo da arquitetura de forma adequada: “é quase como se isso fosse um problema distante. E a gente tem que aprender com
cientistas, sem dúvida, para saber o que é necessário ser feito. E tem que aprender com esses outros saberes que estão por aí, dispersos nos territórios, sejam grupos indígenas, afro, de periferia”.
Para Rejane Magiag Loura, “não é uma questão que se resolve com Bienal de Arquitetura. É um problema conjuntural, que envolve todas as áreas do saber”. A professora destaca “o saber ancestral ou saber do
agricultor que maneja com a terra na atividade de subsistência, que lidam com o clima com muita propriedade”.
O método desenvolvido pela professora da UFMG recorre aos saberes locais e aos de diversas áreas do conhecimento técnico. “Conhecer o território é essencial e significa ouvir as pessoas. Não adianta
profissionais estrangeiros, nacionais, superdiplomados, chegarem no lugar querendo dar respostas. Quem está ali é que entende a dinâmica de água, inclusive a social, cultural, que interfere muito no que é possível fazer. A resposta se constrói em diálogo muito próximo com a sociedade.
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