RPPNs: as reservas onde floresce a restauração ambiental

Estivemos em Bananal, no interior de São Paulo, registrando pela nossa produtora os primeiros passos da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fruta do Lobo. O terreno que era um pasto degradado já recebeu milhares de mudas e, em alguns anos, será mais uma área de Mata Atlântica aos pés da Serra da Bocaina. Esse momento simbólico e inspirador nos lembra a força transformadora dessas áreas, que surgem do compromisso voluntário de pessoas ou empresas com a conservação ambiental.
As RPPNs são áreas privadas, criadas pelo compromisso público de destinar esses terrenos a atividades como pesquisa científica, educação ambiental, ecoturismo ou observação da vida silvestre. Em regiões degradadas, é preciso também fazer a restauração do bioma.
Em Minas Gerais já registramos iniciativas que se tornaram exemplos bem-sucedidos de refúgios para a fauna, berçários de nascentes e guardiãs de paisagens ameaçadas. Para além da conhecida RPPN Fazenda Bulcão, sede do Instituto Terra, de Lélia e Sebastião Salgado, existem muitas evidências de como essas reservas transformam um terreno em patrimônio coletivo para proteção de espécies e ecossistemas. É o caso da RPPN Feliciano Miguel Abdala, na região Leste, e da RPPN Porto Cajueiro, na região Norte, apenas para citar algumas.
Mais do que conservar, as RPPNs também restauram. Muitas surgem em áreas já impactadas, mas que encontram nesses espaços a chance de regenerar. São sementes de esperança plantadas em meio aos desafios socioambientais que vivemos.
Nos debates do Congresso Brasileiro sobre RPPNs, que participamos recentemente em Belo Horizonte, ficou claro que esses espaços estão ganhando relevância estratégica. Entre os temas discutidos estavam políticas públicas voltadas às RPPNs com incentivo à criação de novas reservas e benefícios fiscais aos proprietários. Também foram destacados o suporte técnico e logístico essencial para viabilizar a gestão das áreas, as parcerias e financiamentos que permitem ampliar o alcance das iniciativas e a proteção legal, educação e conscientização, fundamentais para fortalecer a rede de conservação.
Outro ponto central foi o papel das RPPNs diante das mudanças climáticas. Essas reservas contribuem para a resiliência dos territórios, a proteção de mananciais hídricos, a redução de riscos de enchentes e deslizamentos, além de serem aliadas na manutenção da qualidade do ar e do equilíbrio climático.
A experiência da RPPN Fruta do Lobo, ainda em seus primeiros anos de plantio de mudas nativas de Mata Atlântica, simboliza a esperança de que mais áreas privadas possam se tornar guardiãs da vida. Ao contar essa história em forma de documentário, buscamos não apenas registrar, mas também inspirar outros a se engajarem nessa causa.
Em tempos de expansão urbana acelerada e entre tantos empreendimentos de alto impacto, as RPPNs surgem como investimento de contrapeso. São pequenos grandes territórios que restauram a natureza, enquanto ela nos devolve água, ar limpo e biodiversidade. Não seriam esses os ativos naturais mais urgentes do nosso tempo?
Ouça a rádio de Minas