Coluna

Raul Soares: jornalista, professor e crítico literário

Nascido em 7 de agosto de 1877, Raul Soares foi vereador e prefeito em Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata mineira. Deputado estadual e federal, foi o primeiro civil a ocupar o Ministério da Marinha, no governo de Epitácio Pessoa. Senador, presidiu o Estado de Minas Gerais entre 7 de setembro de 1922 e 4 de agosto de 1924, quando faleceu, no Palácio da Liberdade. Múltiplo, ainda se dedicou à imprensa, à docência e aos estudos literários.

Aluno do Seminário Menor de Mariana e dos ginásios mineiros de Barbacena e de Ouro Preto, ele concluiu o curso de humanidades na antiga capital do Estado, em 1895. No mesmo ano, começou a cursar direito, pela Faculdade Livre de Minas, de onde foi aluno por três anos.

Em seu período como universitário em Ouro Preto, tornou-se redator-secretário, e, logo depois, redator-chefe, do jornal quinzenal intitulado “Academia”, publicando, em seu primeiro número, “Crônica da Ternura”, sob o pseudônimo de Lauro Resas. A ele, seguiram-se poemas e artigos, entre os quais um que se tornou célebre, por condenar a pena de morte no direito criminal brasileiro. Os analistas que se debruçaram sobre os textos editados por Raul nesse período destacam o quanto ele valorizava o direito como instrumento civilizatório, de promotor do nacionalismo e meio de combate ao despotismo e à anarquia.

A transferência para a Faculdade de Direito de São Paulo, em 1898, acentuou a vocação jornalística e literária de Raul, que passou a editar vários jornais e revistas durante o curso, chegando a redator-chefe de “A Evolução”, órgão do Centro Acadêmico Onze de Agosto, que comandou por um biênio e do qual, depois, foi o primeiro orador.

Formado em 1900, logo nomearam-no promotor de Justiça da comarca de Santa Luzia do Carangola, em Minas. No ano seguinte, por concurso, conquistou a cátedra de língua portuguesa no Ginásio Estadual de Campinas. Afeiçoado à imprensa, colaborou com frequência com o jornal “Cidade de Campinas”, nele publicando diversos artigos, quase sempre sob o pseudônimo de Saulo Serra. Escrevia sobre temas corriqueiros, sobre música, sobre poesia, e até, de modo pioneiro, sobre o meio ambiente, posicionando-se contra a derrubada das árvores. Suas ideias políticas refletiam boa parte do pensamento da geração de 1870, claramente favorável à república presidencialista inspirada no modelo norte-americano.

Dedicado aos temas da cultura, lançou, em 1904, seu importante livro “Gramática de João Ribeiro”, em que comentou o trabalho do famoso e influente intelectual sergipano. Mesmo nomeado primeiro suplente de delegado de polícia e promotor público interino da comarca de Campinas, sua atuação mais marcante naquele município se deu no campo dos estudos linguísticos e literários. É de 1908 seu relevante estudo “A filologia românica no Brasil” e, do ano seguinte, o relevante “Crisfal, subsídios para o estudo de um problema histórico-literário”, em que comprovou a verdadeira identidade do poeta Crisfal, atribuindo-a a Cristóvão Falcão e não a Bernardim Ribeiro, como muitos críticos anteriormente acreditavam. Também em 1909, foi um dos fundadores da Academia Paulista de Letras, adotando Euclides de Cunha como o patrono de sua cadeira, a de número trinta e seis. Até hoje, passado quase um século de sua morte, é inspiração para todos os que buscam guiar-se por padrões de excelência.

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