Educação e Negócios

Liderança feminina não é cota

Gestão pública e em áreas tradicionalmente masculinas como mineração, engenharia e tecnologia ainda carecem de maior representatividade feminina

Vejo, estarrecida, feminicídios e projetos de lei que culpabilizam mulheres vítimas de estupro como homicidas, refletindo que o valor da mulher ainda carece de aprimoramento. Isso impacta diversos setores, e o mercado de trabalho não será menos violento. Sexismo, salários ultrajantes e desrespeito são comuns, sem mencionar o assédio moral e sexual.

É difícil encarar, mas, em pleno século XXI, ainda é preciso naturalizar a qualificação e o valor da mulher nas corporações. A verdade é que ainda dependemos de políticas de cotas, de esforços dos departamentos de recursos humanos e de muito empenho de cada uma de nós para viabilizar a presença feminina no mundo dos negócios. Especialmente nos postos de liderança, na gestão pública e em áreas tradicionalmente masculinas como mineração, engenharia e tecnologia, entre outras.

Entendo que precisamos de uma cultura regulatória para mudar hábitos e práticas. Os países que mais progrediram nesse sentido, como Noruega, Nova Zelândia e França, por exemplo, tiveram o respaldo legal para promover mudança cultural.

A experiência de implementar cotas para mulheres nos conselhos de administração na França é um exemplo. O valor desse desenvolvimento para o mundo dos negócios foi demonstrado por vários estudos, incluindo um em 2020 pela McKinsey, que destacou o desempenho de empresas com conselhos diversificados.

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Em 2022, o Parlamento Europeu aprovou uma lei que exige pelo menos 40% de representação feminina nos conselhos de administração de empresas com mais de 250 funcionários. Essa lei deve entrar em vigor em 2026.

A evolução gerencial precisa de exemplos e de apoio contínuo, pois é muito difícil mudar o condicionamento tanto do lado masculino quanto do feminino. É preciso que haja um compromisso real por parte dos gestores para implementar não apenas as cotas, mas também práticas que estabeleçam uma política de mudança. Por isso, entendo que é necessário começarmos com vagas afirmativas para mulheres, mas não podemos parar por aí.

Precisamos atacar as raízes da desvalorização da mulher, que muitas vezes são naturalizadas porque estão profundamente conectadas aos modelos educacionais. As barreiras ao reconhecimento dos direitos femininos no mundo do trabalho começam em casa, nas famílias, onde frequentemente há grandes diferenças na forma como filhos e filhas são criados.

Continuam na escola e no ensino superior, onde a orientação dos alunos é repetida de geração em geração, moldando modelos de sucesso sem que homens e mulheres estejam sempre conscientes de suas projeções.

Um letramento de gênero é urgente para que possamos alcançar a verdadeira equidade de direitos. Esse é um ponto relevante porque impedir que a força da gestão feminina chegue aos postos de comando é criar obstáculos ao desenvolvimento das nações.

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