Espumante nacional de excelência e que cabe no bolso
Pode parecer curioso que o espumante, símbolo de glamour e grandes comemorações, seja hoje uma das bebidas de melhor custo-benefício do Brasil. Mas a explicação é bem simples e tem a ver com papo de sommelier: o terroir. As condições climáticas da Serra Gaúcha costumam comprometer a maturação ideal das uvas para vinhos tranquilos, mas acabam se tornando adequadas para espumantes, que necessitam de maior acidez.
Parte dessa história é contada pelo enólogo Mário Geisse, um dos produtores de espumantes de excelência. Na rede social da família ele relembra que, ao chegar ao Rio Grande do Sul na década de 70 para ser executivo na Chandon, se surpreendeu com a ótima qualidade do produto diante da uva utilizada e resolveu plantar uma matéria prima de excelência.
“Comecei a procurar uma região com a localização alta, que tivesse boa drenagem e exposição solar. Procurei muito e descobri, em Pinto Bandeira, um solo com matriz de rocha vulcânica, ácida. Em muitos setores, essa rocha é fragmentada, o que faz uma grande diferença. Por isso, estamos neste terroir, onde produzimos todos os nossos espumantes.”
É justamente nessas condições de solo, clima e relevo que se formou a primeira Denominação de Origem (D.O.) exclusiva de espumantes do Novo Mundo, a Altos de Pinto Bandeira. O processo durou 10 anos entre comprovações e adequações a regras de controle e engloba também as vinícolas Aurora, Don Giovanni e Valmarino. Os rótulos com o selo da D.O. são obrigatoriamente elaborados pelo método Champenoise – também conhecido como tradicional –, o mesmo utilizado na região francesa de Champagne.
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Muito antes disso a Serra Gaúcha já produzia espumantes. Em Garibaldi, está a mais antiga fábrica no Brasil, a Peterlongo. Há também as cooperativas vinícolas Garibaldi e, em Flores da Cunha, a Nova Aliança, que lançou este ano um champenoise por menos de R$ 100.
A expertise brasileira é tamanha que extrapolou as divisas sulistas. No estudo “Vinhos Tropicais do Semiárido do Brasil”, publicado pela revista “Territoires du Vin”, especialistas na vitivinicultura do Vale do São Francisco detalham a produção no Nordeste.
“… pode-se podar videiras e colher uvas em qualquer época do ano, em todos os meses e todas as semanas, o que traz inúmeros benefícios, como a possibilidade de escalonamento da produção, não sendo necessário ter uma estrutura física muito grande para absorver e vinificar todas as uvas colhidas… em algumas empresas, as colheitas e vinificações ocorrem em praticamente todos os meses. Os moscatéis, elaborados a partir do processo ‘tipo Asti’, são os produtos mais vendidos atualmente na região e os de maior rentabilidade pois, entre a colheita e a comercialização, são somente 35 a 45 dias, o que garante rápido retorno e giro de capital.”
Para os brut e demi-sec, utiliza-se o método charmat, que faz a segunda fermentação em tanques de aço inoxidável, diferente do Champenoise, com a segunda fermentação artesanal, na própria garrafa.
Ainda assim, há uma identidade nos espumantes nacionais: são extremamente frutados. Perfeitos para o brinde!
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