Vinho da Casa

Decifrando Chablis, o branco da Borgonha

As características marcantes na taça são frescor e mineralidade

Chardonnay é a casta branca mais cultivada no mundo. Versátil, é capaz de produzir vinhos de diferentes estilos. Mas a sua origem é a Borgonha, na França. Mais especificamente, Chablis, ao norte da região. Ali, um conjunto de fatores proporciona a produção de alguns dos rótulos mais desejados do planeta.

As características marcantes na taça são frescor e mineralidade. Mesmo sendo feitos obrigatoriamente com 100% de uvas Chardonnay, os vinhos Chablis guardam particularidades de acordo com os microclimas daquela região, chamados pelos locais de climats (pronuciam com um acento agudo no A).
Não é uma tarefa simples identificar na gôndola esses pequenos detalhes.

Mas, nesta semana, tivemos a oportunidade de decifrar os mistérios da Borgonha numa masterclass promovida pelo Bureau Interprofessionnel de Vins de Bourgogne (BIVB) e conduzida pelo especialista Paulo Brammer.

Provei as quatro denominações de origem: Petit Chablis, Chablis (o mais produzido com 65% do total), Premier Cru e Grand Cru, a mais exclusiva com apenas 1,5% do total engarrafado. Foi uma sequência encantadora!

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Para abrir, o Petit Chablis Domaine Ventoura 2023, de produção orgânica. Neste rótulo há uvas de seis hectares localizados em Fontanay-près-Chablis, na margem direita do rio Serein, onde os dias são ensolarados e as uvas amadurecem cedo. A fermentação ocorre com as leveduras nativas em inox. Mantém aromas e sabores florais e de frutas cítricas.

Seguindo a degustação, veio o Chablis, Le Classique, da Maison Pascal Bouchard, safra 2023. Envelhecido de seis a oito meses sobre borras em inox, tem complexidade aromática, com notas de frutas cítricas. Linda coloração dourada.

Depois, provamos o Chablis Premier Cru, Les Fourneaux, do Domaine Gautheron (2022). Na mesma família há sete gerações, tem videiras de 70 anos. Sua produção é orgânica e o vinho não passa por madeira. Tem boa estrutura por conta do seu climat quente.

Para fechar, o Chablis Grand Cru, Les Clos, de Willian Fèvre, safra 2018. Feito em área de apenas 4,11 hectares, com colheita manual, fermentação com flora indígena em barricas de carvalho francês, também usado no envelhecimento. Ao pegar na taça, percebi de cara a mineralidade. Os aromas de fumaça, como faísca, aparecem naturalmente. Parece estranho, mas é bom demais! Após o impacto inicial, chegam as frutas, o floral e a picância. De doido.

Os Chablis representam uma área total de menos de 6 mil hectares, apenas 0,6% da produção total de vinho francês e uma receita estimada em 319 milhões de euros. É sinônimo de sofisticação. Para os Premier Cru e os Grand Cru, o aumento de produção é inviável pela limitação das áreas demarcadas.

Já os Petit Chablis, que têm produção crescente e preços mais acessíveis são, segundo o Bureau Interprofessionnel de Vins de Bourgogne (BIVB), o maior potencial para ganhar o mercado brasileiro, que cravou cifras crescentes na importação destes vinhos em 2024, sendo boa parte branco. Um dado surpreendente para nós, que consumimos preferencialmente os tintos. Depois desta degustação, nem fiquei surpresa.

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