O dilema ‘calor versus vinho tinto’ nas festas de fim de ano
Época de maior venda de vinhos do ano, as festas de fim de ano impõem um desafio árduo para sommeliers Brasil afora: a dupla calor escaldante do verão tropical e a preferência nacional por vinhos tintos. Eis a questão! E tome comida pesada no cardápio.
Mas vamos lá. Mesmo entre os tintos, a escolha pode ser por rótulos pouco mais leves. Os vinhos portugueses do Alentejo, por exemplo, harmonizam com pernil de porco sem fazer o cristão passar pelo suadouro. Nesta região de Portugal é comum ter monocasta – que chamamos de varietal no Brasil – e a uva Aragonez (Tempranillo na Espanha e Tinta Roriz em outras regiões de Portugal) fica ideal nesta combinação.
Para o bacalhau, o serviço pode ser bem mais simples. Vá de Pinot Noir e sua temperatura do corpo não subirá exponencialmente. Digo que pode ser mais simples, porque, na minha casa, pela ascendência baiana, a receita afetiva leva dendê. É isso mesmo: bacalhau com dendê! Uma espécie de moqueca. E, com dendê, o repertório do sommelier fica bem mais restrito. Pode ser espumante – várias opções maravilhosas por todo o País – ou até um rosé. Saem rosados excelentes e bem estruturados, feitos de Syrah, queridinha da vitivinicultura de Minas Gerais e estrela dos já famosos Vinhos de Inverno ou vinhos de Dupla Poda.
Mas voltemos às famílias sensatas, que fazem bacalhau grelhado ou cozido com azeites de oliva. Nesses casos, o Pinot Noir, dos mais caros franceses até opções mais em conta do Valle de Casablanca (Chile), é vinho para agradecer aos céus pelo ano que passou.
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Aliás, um ano em que a onda da bebida zero se espalhou pelas gôndolas. Para as festas, há espumantes de muitos produtores nacionais prometendo borbulhas também para quem não pode ou não gosta de álcool. Na taça, a perlage (aquela corrida das bolhas até o cume da flûte) faz um bonito na hora do brinde.
Voltando aos tintos médios e leves, a Merlot, casta emblemática da Serra Gaúcha, casa muito bem com salpicão ou tender bolinha. Alguns dos melhores nacionais vêm de lá.
Essas são apenas algumas sugestões que eu aprecio bastante e, claro, para quem não abre mão do tinto mesmo nos nossos 40 graus do verão. Eu mesma vou me jogar no branco. E nada como um Sauvignon Blanc da IG (Indicação de Origem) Vinhos de Altitude de Santa Catarina para acompanhar com leveza e frescor toda essa comilança.
Para fechar o brinde, vou voltar na memória afetiva que vivi lá em Andradas, no Sul de Minas. O desfecho da degustação na vinícola Stella Valentino foi com um fortificado de uva americana Lorena, ladeado de um docinho de suspiro com laranja. Foi suave e fez parecer que toda a vida fazia sentido. Queria me lembrar daquela sensação pra sempre.
Agora, se você é mais clássico e não tem medo do calor, finalize sua refeição festiva com um tradicional vinho do Porto e rabanada, porque o trabalho ao longo do ano foi árduo, cansativo e agora a gente só quer mesmo é festejar!
Que venha a comilança!
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