Vinho da Casa

Vinho é ‘nobre’ por quê? Entenda a classificação que causa polêmica

Fontes do setor afirmam que está prestes a sair uma atualização sobre o tema

Foi o clima seco e a grande amplitude térmica, no inverno, que permitiram o desenvolvimento da vitivinicultura nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Em noites frescas e dias quentes, a maturação das uvas chega a níveis ideais e, além de cor e aroma, concentra açúcar. Essa combinação de fatores resulta muitas vezes em vinhos com teor alcoólico acima dos 14%.

Na normativa técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), acima de 14% deveriam ser licorosos. Mas não eram. As características gustativas seguiam de vinho seco. Então, em 2018, as instruções foram editadas e às já existentes classificações – “mesa” e “fino” – foi criada uma terceira: o “nobre”, entre 14,1 e 16%.

Com isso, muitos vinhos de inverno ganharam o “nobre” em seus rótulos. Uma adaptação à burocracia, não fosse a semântica. Sinônimo de superior, notável, distinto, sublime e majestoso, a palavra causou ciumeira entre produtores de outras regiões que produzem em condições climáticas distintas, porque aparentemente foi criada uma hierarquização das garrafas.

Puxa daqui e dali, fontes do setor afirmam que está prestes a sair uma atualização. Todos os vinhos de até 16% serão “finos”. A ideia é equilibrar a gôndola e deixar todos em pé de igualdade na hora da venda. A coluna entrou em contato com o Mapa, que, por enquanto, nega a mudança. Vamos aguardar o desenrolar dos acontecimentos.

Como afirma Renata Vieira da Mota, coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Vitivinicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). “É “nobre” devido ao teor alcoólico. Um bom fino não se diferencia de um bom nobre”. E acrescenta: “Podemos até encontrar um nobre mais desequilibrado se a acidez reduzir muito”. Em outras palavras, é a balança entre taninos e acidez que determina a qualidade.

Há “nobres” também em outras regiões, como na Serra Gaúcha. Um deles é o Miolo Lote 43, da Denominação de Origem Vale dos Vinhedos, corte de Merlot e Cabernet Sauvignon. Lançado em 1999, com apenas nove lotes, em colheitas excepcionais, chega ao mercado na sua 10ª edição, safra de 2022. É tão “nobre” quanto outros bons varietais de Syrah do Sudeste, como o Vale de Pedra (Guaspari) e os Maria Maria, da Fazenda Capetinga.

São vinhos bem estruturados e de bom corpo. Posso garantir: harmonizados com carnes suculentas na brasa, proporcionam uma experiência, esta sim, digna da nobreza. Bom apetite!

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