O grande terroir chamado Brasil
Criada em 2016 para reunir as vinícolas da dupla poda, a Associação Nacional dos Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin) inicia o ano com uma grande novidade: a criação do Laboratório de Análise de Vinho, em Brasília. O endereço, bem fora da rota tradicional da vitivinicultura no Brasil, combina com o ineditismo de toda essa história.
Cultura agrícola por séculos desenvolvida entre os paralelos 30º e 50º de latitude, a vitivinicultura, há poucas décadas, começou a se expandir por outras regiões do mundo, em paralelos mais próximos à linha do Equador.
No Brasil, as primeiras vinícolas de vinhos de inverno estavam entre o Sul de Minas Gerais, onde está a pioneira Estrada Real, próximo à divisa com São Paulo, da vinícola Guaspari. Hoje, a produção se espalhou por Goiás, Mato Grosso, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Na associação, há 50 produtores cadastrados.
Em 2022, a associação lançou a marca coletiva “Vinhos de Inverno”. O termo, no entanto, ainda causa confusão. Muitas pessoas acreditam que é assim chamado por ser adequado à degustação na estação mais fria do ano. Mas não é bem isso.
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Nas regiões tradicionais de vitivinicultura, a parreira adormece durante o inverno e dá seus frutos no verão. Uma nova técnica, desenvolvida no Brasil pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), permitiu que as uvas fossem colhidas no Sudeste durante o inverno, estação que tem características semelhantes ao verão europeu, com dias quentes ensolarados e secos e noites frias. A amplitude térmica produz uvas de boa estrutura e que mantêm a acidez. Entre as castas tintas, a Syrah se destaca, enquanto entre as brancas é a Sauvignon Blanc.
A nova técnica provocou uma revolução nos campos agrícolas do Sudeste e vem se expandindo para o Nordeste e o Centro-Oeste. Uma realidade que já toma boa parte do território nacional, tendo em vista que há produtores de uvas viníferas em nossos diversos biomas. Uma espécie de democracia vinícola. Nada mais natural que a capital federal fosse despontar neste enredo, produzindo e engarrafando bons rótulos de castas variadas.
O convênio para o novo laboratório foi assinado pouco antes do Natal, entre a Anprovin e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), tem investimento de R$ 3,5 milhões e será construído no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, complexo que abrigou a Expovitis Brasil 2024 – Feira Nacional de Viticultura, Enologia e Enoturismo, em julho. À frente da empreitada, como suporte técnico está o enólogo Lucas Amaral, nome por trás de muitos vinhos de inverno que saíram dos tonéis da Epamig.
Além de fortalecer o Cerrado como um novo terroir nacional, o laboratório vai aprimorar processos, identificando oportunidades de melhorias, do cultivo ao engarrafamento. Na estrutura, serão realizadas análises físico-químicas e sensoriais, facilitando a pesquisa, além de otimizar a logística para análise de vinhos no Planalto Central.
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